terça-feira, 28 de setembro de 2021

O PERDÃO A LUZ DA BÍBLIA. Mateus 18.21-35.

                     


Introdução

                                                                   

A doutrina do perdão é uma das grandes verdades dos ensinos na Bíblia. Não é possível ser um verdadeiro servo de Deus sem imitar o Cristo e viver sem o exercício do perdão. Jesus não apenas perdoou como também ensinou o perdão. O perdão sempre vence os sentimentos de ira e vingança e estabelece a paz entre Deus e o homem e entre o homem e o seu próximo. Neste esboço fazemos menção sobre a doutrina do perdão e sua importância nas ações humanas. O perdão envolve um ofensor (aquele que cometeu a ofensa) e um ofendido (aquele que sofreu a ofensa). Quem administra o perdão é ofendido. A ele cabe o dever de perdoar a ofensa cometida. É necessário enfatizar sobre o valor do perdão como mandamento divino e como saúde para as emoções e relacionamentos.

      Passagens Bíblicas importantes:

·       Perdão é o amor em ação:  1Co 13.1-13;

·       O perdão completo de José: Gn 45.1-14;

·       O perdão na oração de Estevão:   Atos 7.54-60

·       Suplicando o perdão divino: Sl 51.1-19

·       Exortação ao perdão Mt 6.9-15

·       O perdão conduz à perfeição: Mt 5.43-48

 

                           

I. O QUE É O PERDÃO

 1. No texto bíblicos. O vocabulário para “perdão” nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos é variado e rico. No hebraico, silicha, designa a ação misericordiosa de Deus mediante a qual Ele perdoa, desculpa e livra o pecador da culpa e do castigo advindos pela transgressão (Gn 18.26; Lv 4.20; Nm 14.19; 15.25; Sl 25.18; 32.1,5; 85.2; Rm 4.6-8). No grego, aphiemi, quer dizer “soltar”, “cancelar”, “remir” e “perdoar” e aparece nos Evangelhos referindo-se ao perdão dos pecados (Mt 26.28; Mc 2.5; Lc 7.47), de dívidas (Mt 6.12) e “ofensas” (Mc 11.25).

2. Nos ensinos e ações de Jesus. O perdão foi ensinado (Mt 6.9-15; 18.25-35; Lc 7.36-50; 15.11-32) e praticado por Jesus (Mt 9.6; Lc 23.34, 39-42). A pregação das Boas-Novas era o anúncio do perdão irrestrito ao pecador penitente (Mt 1.21; Mc 10.45). Incluía desde o cancelamento do efeito do pecado cometido (Mc 2.5; Jo 8.11) à aceitação graciosa do pecador à comunhão com Deus (Lc 15.20-24). A morte de Jesus Cristo no Calvário cumpria assim a oferta escatológica do perdão anunciada pelos profetas (Jr 31.34; 33.8 ver Lc 1.76-79; 4.18,19).

3. Nos escritos das epístolas. O perdão nas epístolas aparece no contexto da doutrina da justificação e da graça divina (Rm 3.21-26; 5.1,2,6-11). A pessoa não é tão somente perdoada dos pecados e livre da culpa, mas liberta completamente do poder do pecado sobre ela. O perdão promove a reconciliação do homem com Deus (Rm 5.10,11; 2Co 5.18-21) e faz com que o pecador participe da justiça de Cristo em Deus (Rm 3.21-28; 8.1; 9.30; 1Co 1.30,31).

Para refletir:

 

“Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão” (Machado de Assis).

“Quer ser feliz por um instante? Vingue-se. Quer ser feliz para sempre? Perdoe” (Tertuliano).

 

II. O QUE NÃO É PERDÃO

 

1. Não é covardia e fraqueza. Na perspectiva da filosofia existencialista anticristã, o perdão é visto tanto como fraqueza quanto covardia, e uma forma de corrupção e domesticação da natureza do homem por meio da moral cristã. O filósofo ateu F. Nietzsche entendia os ensinos de Jesus e a ética cristã deste modo. Para ele, o perdão ensinado por Jesus representava fraqueza e uma maneira de comprar a Deus. Ele afirmava que “o homem perde poder quando se compadece”.

2. Não é tolerar o errado. Outro pensamento equivocado a respeito do perdão é considerá-lo como tolerância ao erro. Aquele que perdoa estaria deste modo sendo conivente com o erro, o mal, ou pecado. Assim, tolerar é compreendido como “consentimento” ou “permissão”. Todavia, tolerância é suportar o peso do erro de alguém em vez de concordar ou consentir com o pecado. Quem perdoa não é conivente com o erro que lhe foi cometido, mas suporta a ofensa e a perdoa.

3. Não é anular a justiça (Lc 23.39-43). O perdão de modo algum anula o exercício ou prática da justiça (Dt 16.19). Justiça é dar a cada um o que lhe é devido (v.41). Está relacionada à ação (Jo 7.24). O perdão reconhece que a injustiça foi cometida, mas opera para além dela. É uma dádiva. Na morte de Jesus, entretanto, temos a satisfação da justiça de Deus e a ministração do perdão divino (Rm 1.17; 3.21-31 ver Mt 21.28-32). Assim, o perdão e a justiça podem atuar conjuntamente. No caso do ladrão na cruz, a justiça veio primeiro e, depois, o perdão (Lc 23.39-43). O perdão opera na esfera do sentimento e da subjetividade, a justiça, no entanto, é concreta e objetiva.

  

Para refletir

 Jesus ensinou que a justiça divina é distributiva e misericordiosa (Mt 20.1-16).

 O exercício do perdão é uma lembrança de nossa posição diante de Deus.

 

 

III. PERDÃO, É A BASE PARA HARMONIA DE UM RELACIONAMENTO SAUDÁVEL

 

1. Conflitos na convivência (Cl 3.13). Todo relacionamento humano está sujeito a conflitos, desavenças e queixas (At 15.36-39; 1Co 1.10-30). Não existe interação humana perfeita e por isso a dádiva do perdão deve estar presente (Mt 18.21,22).

2. As dois lados do perdão. O perdão entendido corretamente abrange duas dimensões da vida humana: vertical e horizontal. Na primeira advém de Deus para o homem, removendo a culpa e se constituindo um ato de graça mediante o qual o ser humano é restaurado à comunhão com Deus (2Co 5.19; Dn 9.9). Ninguém perdoa a Deus, pois Ele é Perfeito e Justo (Sl 9.8; 18.30; 19.7; 98.9; Mt 5.48). Na segunda, diz respeito ao tratamento dispensado ao próximo (Mt 5.44; 6.12; 18.21,22; Rm 12.14,19). Essas duas dimensões são interdependentes (Mt 6.12; 18.23-35).

3.  O perdão é uma dádiva. Perdoar é um ato de pura graça e de superação à ofensa recebida (Mt 18.21,22). Quem exerce o perdão lida melhor com o ressentimento e mágoas que advêm das injustiças sofridas. Perdoar é o melhor remédio para curar as feridas da alma: tristeza, angústia, compaixão própria, depressão entre outras. Quando a pessoa perdoa ela abre-se para uma nova e saudável experiência na qual as doenças psicossomáticas não se instalam sobre sua vida. O exercício do perdão traz saúde para a vida. Perdoe e viva feliz!

 

                                                   

Conclusão

 

O perdão é uma dádiva de Deus na qual o servo de Deus é chamado a participar livremente. Entretanto, se não o fizer por meio de um ato livre e misericordioso concedido por Deus, deve exercê-lo como mandamento divino.

Para refletir:

“Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mt 18.35).

“O juízo final será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia” (Tg 2.13).

 

                                                                Fraternalmente em Cristo.

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