A
doutrina do perdão é uma das grandes verdades dos ensinos na Bíblia.
Não é possível ser um verdadeiro servo de Deus sem imitar o Cristo e viver sem o
exercício do perdão. Jesus não apenas perdoou como também ensinou o perdão. O perdão sempre vence os
sentimentos de ira e vingança e estabelece a paz entre Deus e o homem e entre o
homem e o seu próximo. Neste esboço fazemos menção sobre a doutrina do perdão e
sua importância nas ações humanas. O perdão
envolve um ofensor (aquele que cometeu a ofensa) e um ofendido (aquele que
sofreu a ofensa). Quem administra o perdão é ofendido. A ele cabe o dever de
perdoar a ofensa cometida. É necessário enfatizar sobre o valor do perdão como
mandamento divino e como saúde para as emoções e relacionamentos.
Passagens Bíblicas
importantes:
· Perdão
é o amor em ação: 1Co 13.1-13;
· O
perdão completo de José: Gn 45.1-14;
· O
perdão na oração de Estevão: Atos 7.54-60
·
Suplicando o perdão divino: Sl 51.1-19
· Exortação
ao perdão Mt 6.9-15
· O
perdão conduz à perfeição: Mt 5.43-48
I. O QUE É O PERDÃO
1. No texto bíblicos. O
vocabulário para “perdão” nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos é variado
e rico. No hebraico, silicha, designa a ação misericordiosa de Deus
mediante a qual Ele perdoa, desculpa e livra o pecador da culpa e do castigo
advindos pela transgressão (Gn 18.26; Lv 4.20; Nm 14.19; 15.25; Sl 25.18;
32.1,5; 85.2; Rm 4.6-8). No grego, aphiemi, quer dizer “soltar”,
“cancelar”, “remir” e “perdoar” e aparece nos Evangelhos referindo-se ao perdão
dos pecados (Mt 26.28; Mc 2.5; Lc 7.47), de dívidas (Mt 6.12) e “ofensas” (Mc
11.25).
2. Nos ensinos e ações de Jesus. O
perdão foi ensinado (Mt 6.9-15; 18.25-35; Lc 7.36-50; 15.11-32) e praticado por
Jesus (Mt 9.6; Lc 23.34, 39-42). A pregação das Boas-Novas era o anúncio do
perdão irrestrito ao pecador penitente (Mt 1.21; Mc 10.45). Incluía desde o
cancelamento do efeito do pecado cometido (Mc 2.5; Jo 8.11) à aceitação
graciosa do pecador à comunhão com Deus (Lc 15.20-24). A morte de Jesus Cristo
no Calvário cumpria assim a oferta escatológica do perdão anunciada pelos
profetas (Jr 31.34; 33.8 ver Lc 1.76-79; 4.18,19).
3. Nos escritos das epístolas. O
perdão nas epístolas aparece no contexto da doutrina da justificação e da graça
divina (Rm 3.21-26; 5.1,2,6-11). A pessoa não é tão somente perdoada dos
pecados e livre da culpa, mas liberta completamente do poder do pecado sobre ela.
O perdão promove a reconciliação do homem com Deus (Rm 5.10,11; 2Co 5.18-21) e
faz com que o pecador participe da justiça de Cristo em Deus (Rm 3.21-28; 8.1;
9.30; 1Co 1.30,31).
Para
refletir:
“Não
levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão” (Machado de Assis).
“Quer
ser feliz por um instante? Vingue-se. Quer ser feliz para sempre? Perdoe”
(Tertuliano).
II. O
QUE NÃO É PERDÃO
1. Não é covardia e fraqueza. Na perspectiva da filosofia
existencialista anticristã, o perdão é visto tanto como fraqueza quanto
covardia, e uma forma de corrupção e domesticação da natureza do homem por meio
da moral cristã. O filósofo ateu F. Nietzsche entendia os ensinos de Jesus e a
ética cristã deste modo. Para ele, o perdão ensinado por Jesus representava
fraqueza e uma maneira de comprar a Deus. Ele afirmava que “o homem perde poder
quando se compadece”.
2. Não é tolerar o errado. Outro pensamento equivocado
a respeito do perdão é considerá-lo como tolerância ao erro. Aquele que perdoa
estaria deste modo sendo conivente com o erro, o mal, ou pecado. Assim, tolerar
é compreendido como “consentimento” ou “permissão”. Todavia, tolerância é
suportar o peso do erro de alguém em vez de concordar ou consentir com o
pecado. Quem perdoa não é conivente com o erro que lhe foi cometido, mas
suporta a ofensa e a perdoa.
3. Não é anular a justiça (Lc 23.39-43). O perdão de modo algum
anula o exercício ou prática da justiça (Dt 16.19). Justiça é dar a cada um o
que lhe é devido (v.41). Está relacionada à ação (Jo 7.24). O perdão reconhece
que a injustiça foi cometida, mas opera para além dela. É uma dádiva. Na morte
de Jesus, entretanto, temos a satisfação da justiça de Deus e a ministração do
perdão divino (Rm 1.17; 3.21-31 ver Mt 21.28-32). Assim, o perdão e a justiça podem
atuar conjuntamente. No caso do ladrão na cruz, a justiça veio primeiro e,
depois, o perdão (Lc 23.39-43). O perdão opera na esfera do sentimento e da
subjetividade, a justiça, no entanto, é concreta e objetiva.
Para
refletir
Jesus ensinou que a justiça divina é distributiva e misericordiosa (Mt
20.1-16).
O exercício do perdão é uma lembrança de nossa posição diante de Deus.
III.
PERDÃO, É A BASE PARA HARMONIA DE UM RELACIONAMENTO SAUDÁVEL
1. Conflitos na convivência (Cl 3.13). Todo relacionamento humano
está sujeito a conflitos, desavenças e queixas (At 15.36-39; 1Co 1.10-30). Não
existe interação humana perfeita e por isso a dádiva do perdão deve estar
presente (Mt 18.21,22).
2. As dois lados do perdão. O perdão entendido corretamente
abrange duas dimensões da vida humana: vertical e horizontal. Na primeira advém
de Deus para o homem, removendo a culpa e se constituindo um ato de graça
mediante o qual o ser humano é restaurado à comunhão com Deus (2Co 5.19; Dn
9.9). Ninguém perdoa a Deus, pois Ele é Perfeito e Justo (Sl 9.8; 18.30; 19.7;
98.9; Mt 5.48). Na segunda, diz respeito ao tratamento dispensado ao próximo
(Mt 5.44; 6.12; 18.21,22; Rm 12.14,19). Essas duas dimensões são
interdependentes (Mt 6.12; 18.23-35).
3. O perdão é
uma dádiva. Perdoar
é um ato de pura graça e de superação à ofensa recebida (Mt 18.21,22). Quem
exerce o perdão lida melhor com o ressentimento e mágoas que advêm das
injustiças sofridas. Perdoar é o melhor remédio para curar as feridas da alma:
tristeza, angústia, compaixão própria, depressão entre outras. Quando a pessoa
perdoa ela abre-se para uma nova e saudável experiência na qual as doenças
psicossomáticas não se instalam sobre sua vida. O exercício do perdão traz
saúde para a vida. Perdoe e viva feliz!
Conclusão
O
perdão é uma dádiva de Deus na qual o servo de Deus é chamado a participar
livremente. Entretanto, se não o fizer por meio de um ato livre e
misericordioso concedido por Deus, deve exercê-lo como mandamento divino.
Para
refletir:
“Assim
vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu
irmão, as suas ofensas” (Mt 18.35).
“O
juízo final será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia” (Tg
2.13).
Artigo abençoado Prof. Josué. Deus abençoe sempre.
ResponderExcluir