terça-feira, 2 de setembro de 2025

ELE OS BATIZARÁ COM O ESPÍRITO SANTO E COM FOGO

 

“Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.”
(Mateus 3.11-12)

A passagem é de grande densidade teológica e escatológica. João Batista contrasta o seu batismo, que era apenas preparatório e simbólico, com o batismo do Messias, que teria caráter definitivo, espiritual e purificador.

Algumas versões bíblicas traduzem a frase “limpará a sua eira”. A Bíblia King James, ao retornar ao original grego, ressalta o uso da pá de joeirar, instrumento de madeira utilizado para lançar o cereal ao ar, permitindo que a palha, por ser mais leve, fosse levada pelo vento, enquanto os grãos, mais pesados, permaneciam no solo. Esse ato representa o discernimento divino entre os justos e os ímpios, como também o cumprimento das profecias de Malaquias (Ml 3.1-6; 4.1) ¹.

Na mesma linha, o comentário da King James sobre Lucas 3.16-17 explica que o “fogo” está associado:

  1. ao juízo divino (Lc 3.17; 12.49-53),
  2. ao Pentecostes (At 2.3),
  3. e às provações purificadoras (1 Co 3.13).²

Assim, o trigo simboliza os fiéis, enquanto a palha representa os impenitentes (Rt 1.22). O termo grego asbesto (ἄσβεστος) descreve um fogo de intensidade inextinguível, imagem do juízo eterno. Muitos judeus esperavam que apenas os gentios fossem condenados, mas João deixa claro que o juízo abrange a todos os que rejeitam o arrependimento, inclusive Israel.

O simbolismo bíblico do fogo

A linguagem bíblica é repleta de figuras: metáforas, símbolos, alegorias e tipos. O fogo ocupa lugar central entre essas imagens. No Antigo Testamento, pode indicar:

  1. Presença de Deus (Êx 3.2; 13.21),
  2. Aprovação divina (2 Cr 7.1),
  3. Proteção (Zc 2.5),
  4. Purificação (Ml 3.3),
  5. Juízo (Lv 10.2).

O autor de Hebreus (12.29) recorda que “o nosso Deus é fogo consumidor”, não no sentido panteísta, mas como imagem da santidade que purifica e consome o pecado.

Enquanto o fogo do altar simboliza aceitação divina do sacrifício (Lv 9.24), o fogo invocado por Elias (2 Rs 1.1-15) manifesta o juízo sobre a rebelião.

No Novo Testamento, o fogo está diretamente ligado ao Espírito Santo:

  1. João anuncia: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
  2. Em Apocalipse, o Espírito aparece como “sete tochas de fogo” (Ap 4.5).
  3. No Pentecostes, línguas como de fogo repousam sobre os discípulos (At 2.3).

Assim, o Espírito é o fogo que ilumina, aquece, purifica e fortalece a vida do crente.

 

Testemunho dos teólogos e exegetas

Wayne Grudem explica que, sendo chamado “Espírito Santo”, uma de suas principais obras é a purificação do pecado e a santificação prática do crente.³ Esse processo é ilustrado pelo fogo, que tanto purifica como separa o falso do genuíno.

O reformador João Calvino também comenta sobre Mateus 3.11:

“O batismo de João era apenas um sinal exterior, mas Cristo, por seu Espírito, renova de fato as consciências. O fogo aqui não deve ser entendido como destruição, mas como aquilo que queima as impurezas, para que reste o que é puro e santo.” ⁴

Já o teólogo Leon Morris acrescenta:

“O fogo pode significar tanto purificação quanto julgamento. Os que recebem o Espírito com fé são purificados; os que O rejeitam, experimentam o fogo do juízo.” ⁵

Dessa forma, vemos que o batismo com o Espírito Santo e com fogo envolve tanto a experiência pentecostal de purificação e capacitação quanto a dimensão escatológica do juízo divino.

                            Fraternalmente em Cristo,

                                                      Josué de Asevedo Soares

 

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  1. Bíblia King James. AbbaPress, 2012, p. 1753.
  2. Bíblia King James. AbbaPress, 2012, p. 1911.
  3. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova, 1999, p. 535.
  4. CALVINO, João. Comentário ao Evangelho de Mateus. Vol. I. Ed. Fiel, 1996, p. 82.
  5. MORRIS, Leon. The Gospel According to Matthew. Eerdmans, 1992, p. 67.

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