segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Quando a Chama se Apaga: A Saída Silenciosa do Campo do Senhor.

 

                                                      Por Josué de A  Soares

O clamor da seara sem ceifeiros, é necessário renúncia e santificação. Certa vez Jesus declarou: “A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.” (Mateus 9.37-38)

Essa frase ecoa novamente em nossos dias. No Brasil, especialmente no contexto pentecostal, cresce a percepção de que obreiros e ministros estão desaparecendo, deixando funções, ministérios ou até se afastando totalmente do convívio eclesiástico.

Não se trata de mera impressão. Há relatos reais de congregações fechadas por falta de obreiros dispostos a conduzir os trabalhos. Existem também estudos acadêmicos brasileiros que analisam a evasão de voluntários e servidores nas igrejas. Pesquisas internacionais apontam fenômenos semelhantes em diversas nações.

A pergunta não é mais se isto está acontecendo, mas por que.

I — Existe realmente uma evasão de obreiros?

Sim. Há dados, relatos e pesquisas que confirmam essa realidade.

·        Congregações fecharam por falta de obreiros em regiões do Brasil.

·        Pesquisas sobre voluntariado cristão mostram que muitos deixam a obra por falta de cuidado pastoral, exaustão ou ausência de acompanhamento².

·        Estudos teológicos ressaltam que a formação insuficiente e a sobrecarga emocional fragilizam o compromisso de longo prazo.  O problema é real, e complexo.

II — Causas da evasão: fatores que levam obreiros a “sumir”

1. Burnout e desgaste emocional

Obreiros que servem sem descanso, sem supervisão saudável e sem cuidado pastoral desenvolvem exaustão física, espiritual e emocional, levando muitos a abandonar funções³.

2. Falta de apoio, cuidado e acompanhamento

A pesquisa brasileira sobre evasão de voluntários destaca que a liderança precisa investir em acompanhamento. Mas, se os líderes orassem mais com os seus obreiros, se os pastores de Igreja orassem mais com os membros, se as irmãs de oração realmente orassem, muita coisa mudaria. A questão está na pratica e não nas palavras, temos muito assuntos e questionamentos, mas pouca espiritualidade e tem lugar que a espiritualidade é raridade.

É importante destacar: Quando o obreiro é lembrado apenas para servir, mas não para ser cuidado, a vocação perde vigor.

3. Formação teológica com muita visão material

É bem verdade que tem obreiro sem formação em teologia. Mas, pra mim este se salva quando é convertido e tem um bom caráter.  Por outro lado, muitos obreiros quando tem o seminário, servem cofiando na sua formação teológica, mas pouco preparo bíblico, ou seja, não sabem e não leem a bíblia, não oram de verdade, cita autores de livros como decoreba, são descompromissado com Deus e a obra. A ausência de discipulado sólido e formação bíblica contínua está prejudicada. Além do problema no caráter, não são convertido de verdade. Isso gera murmurações e desvio da sã doutrina.

4. Conflitos internos e resistência à mudança

Ambientes eclesiais marcados por disputas, partidarismos e inflexibilidade geram frustração. Pesquisas internacionais apontam conflitos internos como um dos principais motivos para a desistência.

5. Secularização e pressões externas

A influência crescente de uma sociedade voltada ao imediatismo, ao consumo e à autossuficiência afeta diretamente a visão de vocação e ministério. Muitos veem a obra de Deus com um “meio de se dar bem”, isso é um problema, pois gerara decepção e frieza.

III   Quando a obra perde seu centro e deixa de parecer com o dono

Entre os elementos menos comentados, mas profundamente sentidos, está a mudança silenciosa no modo como muitos têm lidado com a obra de Deus.

Vivemos um tempo em que outras ocupações, interesses e modelos organizacionais têm invadido o sagrado. A igreja, que deveria ser hospital e família, às vezes passa a funcionar como empresa; Obreiros, que deveriam ser irmãos e cooperadores, são tratados como funcionários ou servidores pessoais.

E nesse cenário, muitos que um dia serviram com alegria agora se veem cansados, desmotivados e até desiludidos.

Além disso, práticas estranhas ao Evangelho têm se infiltrado:
honrarias excessivas, vaidades ministeriais, enfeites de grandeza, títulos e homenagens que mais lembram a lógica do mundo do que o espírito de Cristo.
Atribuir nomes, placas e distinções como quem batiza viadutos ou avenidas produz um ambiente competitivo, desperta inveja e fere o espírito humilde do Reino.

Como Jesus advertiu em Mateus 6,2, muitos “já receberam seu galardão”.

Nesse ambiente, o obreiro sincero se pergunta: “Onde está a simplicidade do Evangelho?” É natural que muitos esfriem quando o ministério perde o rosto de Cristo.

É verdade que cada discípulo deve olhar para Jesus, mas também é verdade que a liderança deve refletir Jesus. Obreiros não desistem apenas do trabalho: desistem quando não reconhecem mais Cristo na forma como o trabalho está sendo conduzido.

Quando a obra deixa de parecer com o Dono da obra, os trabalhadores começam a não se reconhecer nela.

IV — Reflexão bíblica: direção para os dias difíceis

A Bíblia nos ajuda a compreender este momento:

1. A escassez de obreiros sempre foi uma realidade espiritual

Mateus 9.38 mostra que a falta de ceifeiros é motivo para oração e mobilização espiritual.

2. A apatia espiritual esfria a vocação

A Palavra alerta contra a mornidão (Apocalipse 3.15-16).

Quando o ambiente espiritual se torna raso, o chamado se torna pesado.

3. Paulo ensina a Timóteo o caminho da permanência

“Procura apresentar-te a Deus como obreiro aprovado…” (2 Timóteo 2.15)

A permanência requer preparo, constância, vigilância e dependência do Espírito.

V — A visão dos teólogos e líderes pentecostais brasileiros

Teólogos, pastores e pesquisadores pentecostais têm apontado:

  • A necessidade de discipulado profundo e formação teológica contínua;
  • A urgência de cuidado pastoral integral com obreiros;
  • O chamado para uma reforma espiritual e missionária, resgatando a humildade e a identidade do pentecostalismo brasileiro.

VI — Caminhos para o despertamento: o que podemos fazer agora

  1. Orar intensamente por novos obreiros — e pelos que estão cansados.
  2. Construir um ambiente espiritual saudável, onde Cristo seja o centro, não cargos ou estruturas.
  3. Cuidar dos obreiros, não apenas usá-los.
  4. Valorizar a formação, discipulado e capacitação contínua.
  5. Restaurar a simplicidade, a santidade e a humildade do Evangelho.

Conclusão:

Um chamado urgente. A evasão de obreiros na igreja brasileira é real. É resultado de pressões externas, conflitos internos, desgaste emocional e, sobretudo, da perda progressiva da simplicidade e espiritualidade que caracterizam a verdadeira obra de Deus.

A solução não está apenas em recrutar mais pessoas, mas em curar a atmosfera espiritual da igreja. Que voltemos a ser igreja, não empresa; irmãos, não funcionários;
servos de Cristo, e não gestores de estruturas.

Que voltemos à seara com lágrimas, dependência e amor, e então veremos o Senhor levantar novamente homens e mulheres cheios do Espírito para esta geração.

 

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