A. Definição de pecado.
Podemos partir da
seguinte definição: pecado é deixar de se
conformar à lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza.
O pecado é aqui definido em relação a Deus e sua lei moral. Inclui não só atos individuais, como roubar, mentir ou
cometer homicídio, mas também atitudes
contrárias àquilo que Deus exige de nós. Percebemos isso já nos Dez
Mandamentos, que não só proíbem ações pecaminosas, mas também atitudes
errôneas: “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem cousa alguma que pertença ao teu próximo” (Êx 20.17). Aqui Deus especifica
que o desejo de roubar ou cometer adultério é também pecado aos olhos dele.
B. A origem do pecado
De onde veio o pecado?
Como ele penetrou no universo? Primeiro, precisamos afirmar claramente que Deus
não pecou e não deve ser culpado pelo pecado. Foi o homem quem pecou, os anjos quem
pecaram, e nos dois casos o fizeram por escolha intencional e voluntária.
Culpar a Deus pelo pecado seria blasfemar contra o caráter de Deus. “Suas obras
são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e
não há nele injustiça; é justo e reto” (Dt 32.4). Abraão pergunta com verdade e
força nas palavras: “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). E
Eliú diz com justiça: “Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do
Todo-Poderoso o cometer injustiça” (Jó 34.10). De fato, para Deus é impossível
sequer desejar a injustiça: “Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a
ninguém tenta” (Tg 1.13).
C. A doutrina do pecado herdado
Como o pecado de Adão
nos afeta? As Escrituras ensinam que herdamos o pecado de Adão de dois modos.
1. Culpa herdada:
Somos considerados
culpados por causa do pecado de Adão. Paulo explica os efeitos do pecado de
Adão da seguinte maneira: “Portanto [...] por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado, a morte, assim [...] a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram” (Rm 5.12). O contexto mostra que Paulo não está falando
dos pecados que as pessoas efetivamente cometem no dia-a-dia, pois todo o
parágrafo (Rm 5.12-21) trata da comparação entre Adão e Cristo.
2. Corrupção herdada:
Temos
uma natureza pecaminosa por causa do pecado de Adão. Além da culpa legal que
Deus nos imputa por causa do pecado de Adão, também herdamos uma natureza
pecaminosa como conseqüência do pecado dele. Essa natureza pecaminosa herdada é
às vezes denominada simplesmente “pecado original”, e às vezes, mais
precisamente, “poluição original”. Uso, em vez disso, o termo “corrupção
herdada”, pois parece exprimir com mais clareza a idéia em vista.
a. Na
nossa natureza, carecemos totalmente de bem espiritual perante Deus. Não é
certo dizer que algumas partes de nós são pecaminosas, e outras puras. Antes,
cada parte do nosso ser está maculada pelo pecado — o intelecto, as emoções e
desejos, o coração (o centro do desejos e dos processos decisórios), as metas e
motivos e até o corpo físico. Diz Paulo: “Sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem nenhum” (Rm 7.18) e “para os impuros e descrentes, nada é
puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt
1.15).
b. Nos
nossos atos, somos totalmente incapazes de fazer o bem espiritual perante Deus.
Essa idéia está ligada à anterior. Não só em nós, pecadores, falta o bem
espiritual, mas também a capacidade de fazer qualquer coisa que agrade a Deus,
e ainda a capacidade de nos aproximar de Deus por nossas próprias forças. Paulo
diz que “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). Além
disso, a respeito de dar fruto para o reino de Deus e fazer o que lhe agrada,
diz Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). De fato, os descrentes não
são agradáveis a Deus, senão por outra razão qualquer, simplesmente porque seus
atos não advêm da fé em Deus e do amor por ele, e “sem fé é impossível agradar
a Deus” (Hb 11.6). Paulo, falando da época em que seus leitores eram
descrentes, diz-lhes que estavam “mortos nos vossos delitos e pecados, nos
quais andastes outrora” (Ef 2.1-2). Os descrentes estão num estado de servidão
ou escravidão ao pecado, pois “todo o que comete pecado é escravo do pecado”
(Jo 8.34). Embora, do ponto de vista humano, as pessoas possam ser capazes de
fazer o bem, Isaías afirma que “todas as nossas justiças, [são] como trapo da
imundícia” (Is 64.6; cf. Rm 3.9-20). Os incrédulos nem sequer são capazes de
compreender corretamente as coisas de Deus, pois “o homem natural não recebe os
dons [lit. “coisas”] do Espírito de Deus, pois lhe são insensatez, e não
consegue compreendê-los, pois só se pode discerni-los espiritualmente” (1Co
2.14 rsv mg.). Tampouco podemos
nós nos aproximar de Deus por nossas próprias forças, pois diz Jesus: “Ninguém
pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44).
Mas se nos vemos em
total incapacidade de fazer qualquer bem espiritual aos olhos de Deus, então
será que ainda temos alguma liberdade de escolha? Sem dúvida aqueles que estão
alheios a Cristo ainda tomam decisões voluntárias — ou seja, decidem o que
querem fazer, depois agem. Nesse sentido, existe afinal algum tipo de
“liberdade” nas decisões que as pessoas tomam. Porém, em virtude da sua
incapacidade de fazer o bem e fugir da sua rebeldia fundamental contra Deus e
da sua preferência fundamental pelo pecado, os descrentes não têm liberdade no
sentido mais importante do termo — ou seja, a liberdade de agir corretamente e
de fazer o que é agradável a Deus.
A aplicação disso à nossa
vida é bastante óbvia: se Deus dá a alguma pessoa o desejo de se arrepender e
confiar em Cristo, ela não deve se demorar nem endurecer seu coração (cf. Hb
3.7-8; 12.17). Essa capacidade de se arrepender e desejar ter fé em Deus não é
naturalmente nossa, mas vem pela atuação do Espírito Santo e não dura para
sempre. “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb
3.15).
D. Pecados reais que cometemos
1. Todas as pessoas são pecadoras perante Deus.
As Escrituras em muitas
passagens dão testemunho da pecaminosidade universal da humanidade. “Todos se
extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer” (Sl 14.3). Diz Davi: “À tua vista não há justo nenhum vivente” (Sl
143.2). E diz Salomão: “Não há homem que não peque” (1Rs 8.46; cf. Pv 20.9).
No Novo Testamento,
Paulo tece uma extensa argumentação em Romanos 1.18-3.20, mostrando que todas
as pessoas, tanto judeus como gregos, apresentam-se culpados perante Deus. Diz
ele: “Todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está
escrito: Não há justo, nem um sequer” (Rm 3.9-10). Ele está certo de que “todos
pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Tiago, o irmão do Senhor,
admite: “Todos tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2), e se ele, que era
apóstolo e líder da igreja primitiva, admitiu que cometia muitos erros, então
também nós devemos nos dispor a admiti-lo. João, o discípulo amado, que era
especialmente íntimo de Jesus, disse:
Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado,
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós (1Jo 1.8-10).
2. Será que nossa capacidade limita a nossa responsabilidade?
Pelágio,
popular mestre cristão que pregou em Roma por volta de 383-410 d.C., e mais
tarde (até 424 d.C.) na Palestina, ensinava que Deus responsabiliza o homem só
pelas coisas que este é capaz de
fazer. Logo, como Deus nos exorta a fazer o bem, temos necessariamente a
capacidade de fazer o bem que Deus exige. A posição pelagiana rejeita a
doutrina do “pecado herdado” (ou “pecado original”) e sustenta que o pecado
consiste somente em atos pecaminosos isolados.
Contudo,
essa idéia de que somos responsáveis perante Deus somente por aquilo que
podemos fazer contraria o testemunho bíblico, que afirma tanto que estávamos “mortos nos [...] delitos e pecados” nos
quais andávamos antes (Ef 2.1) quanto que somos incapazes de fazer qualquer bem
espiritual, e também que somos todos culpados diante de Deus. Além do mais, se
nossa responsabilidade perante Deus se limitasse à nossa capacidade, então
pecadores extremamente empedernidos, sob pesado jugo do pecado, poderiam ser
menos culpados diante de Deus do que cristãos maduros que se esforçam
diariamente por obedecer-lhe. E o próprio Satanás, que eternamente só é capaz
de fazer o mal, estaria completamente livre de culpa — sem dúvida nenhuma uma conclusão
equivocada.
A
verdadeira medida da nossa responsabilidade e da nossa culpa não é a nossa
capacidade de obedecer a Deus, mas antes a perfeição absoluta da lei moral de
Deus e a sua própria santidade (que se reflete nessa lei). “Portanto, sede vós perfeitos
como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
3. Será que as crianças são culpadas mesmo antes de pecar efetivamente?
Segundo
alguns, as Escrituras pregam determinada “idade da imputabilidade”, antes da
qual as crianças pequenas não são responsáveis pelo pecado nem tidas como
culpadas perante Deus. Porém, as passagens citadas acima, na seção C, sobre o
“pecado herdado”, indicam que mesmo antes do nascimento as crianças já são
culpadas perante Deus e dotadas de uma natureza pecaminosa, o que não só lhes
confere a tendência ao pecado, mas também faz que Deus as veja como
“pecadoras”. “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl
51.5). As passagens que concebem que no juízo final se considerarão os atos
pecaminosos efetivamente cometidos (e.g., Rm 2.6-11) nada dizem sobre o
fundamento do juízo nos casos em que não houve atos individuais certos ou
errados, como ocorre com as crianças que morrem muito novas. Nesses casos,
devemos aceitar as passagens bíblicas que afirmam que temos uma natureza
pecaminosa antes do momento do nascimento. Além do mais, precisamos compreender
que a natureza pecaminosa da criança se manifesta já bem cedo, certamente nos
primeiros dois anos de vida, como qualquer um que já criou filhos pode
confirmar. (Diz Davi, noutra passagem: “Desviam-se os ímpios desde a sua
concepção; nascem e já se desencaminham”,
Sl 58.3.)
Mas
então o que dizer das crianças que morrem antes de ter idade bastante para
compreender e aceitar o evangelho? Será que podem ser salvas?
Aqui só
nos resta dizer que, se essas crianças forem salvas, não será pelos seus
próprios méritos, nem com base na sua justiça ou inocência, mas inteiramente
com base na obra redentora de Cristo e na regeneração operada pela ação do
Espírito Santo dentro delas. “Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). “Se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Todavia,
certamente é possível que Deus conceda regeneração (ou seja, nova vida
espiritual) a uma criança mesmo antes que ela nasça. Isso aconteceu a João
Batista, pois o anjo Gabriel, antes de João nascer, disse: “Ele [...] será
cheio do Espírito Santo, já do ventre
materno” (Lc 1.15). Podemos dizer que João Batista “nasceu de novo” antes
de nascer! (Veja Nota dos Editores no
final deste capítulo.) Encontramos exemplo semelhante em Salmos 22.10, onde diz
Davi: “Desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus”. É evidente, portanto, que
Deus é capaz de salvar as crianças de um modo incomum, sem que ouçam e
compreendam o evangelho, concedendo-lhes regeneração bem cedo, às vezes antes
mesmo do nascimento. É provável que imediatamente depois dessa regeneração
surja, em idade bastante precoce, uma consciência incipiente e intuitiva de
Deus e a fé nele, mas isso é algo que simplesmente não podemos entender.
Devemos,
entretanto, afirmar bem claramente que essa não é a maneira normal de Deus
salvar as pessoas. A salvação geralmente ocorre quando a pessoa ouve e
compreende o evangelho, e então passa a ter fé em Cristo. Mas em casos incomuns
como o de João Batista, Deus concede salvação mesmo antes dessa compreensão. E
isso nos leva a concluir que é certamente possível que Deus também o faça ao
saber que a criança morrerá antes de ouvir o evangelho.
Quantas
crianças Deus salva dessa forma? Como as Escrituras não nos dão resposta para
isso, simplesmente não temos como saber. Quando a Bíblia cala, não é sensato
fazer declarações taxativas. No entanto, devemos reconhecer que Deus, nas
Escrituras, freqüentemente salva os filhos daqueles que crêem nele (ver Gn 7.1;
cf. Hb 11.7; Js 2.18; Sl 103.17; Jo 4.53; At 2.39; 11.14(?); 16.31; 18.8; 1Co
1.16; 7.14; Tt 1.6). Essas passagens não mostram que Deus automaticamente salva
os filhos de todos os crentes (pois conhecemos filhos de pais piedosos que,
crescendo, rejeitaram ao Senhor, e as Escrituras nos dão exemplos, como Esaú e
Absalão), mas indicam realmente que a conduta habitual de Deus, seu modo
“normal” ou esperado de agir, é aproximar de si os filhos dos crentes. Com respeito
aos filhos dos crentes que morrem muito novos, não temos razão para pensar de
outra maneira.
Especialmente
relevante aqui é o caso do primeiro filho que Bate-Seba deu ao rei Davi. Depois
da morte da criança, disse Davi: “Eu irei
a ela, porém ela não voltará para mim” (2Sm 12.23). Davi, que ao longo da
sua vida exibiu grande confiança de que viveria para sempre na presença do
Senhor (ver Sl 23.6 e muitos dos salmos de Davi), também acreditava que
voltaria a ver seu filhinho depois de morrer. Isso só pode implicar que ele
estaria com o seu filho na presença do Senhor para sempre.2 0 Essa passagem, ao lado de outras mencionadas
acima, deve servir igualmente como garantia, para todos os crentes que perderam
filhos pequenos, de que um dia os verão novamente na glória do reino celeste.
Com
respeito aos filhos dos descrentes que morrem em idade muito tenra, as
Escrituras se calam. Simplesmente devemos deixar a questão nas mãos de Deus,
confiando na sua justiça e misericórdia. Se forem salvos, não será com base em
algum mérito próprio, nem na inocência que lhes possamos atribuir. Se forem
salvos, será com base na obra redentora de Cristo; e sua regeneração, como a de
João Batista antes do nascimento, será pela misericórdia e graça de Deus. A
salvação sempre vem em virtude da misericórdia divina, e não por causa dos
nossos méritos (ver Rm 9.14-18). As Escrituras não nos permitem dizer nada além
disso.
4. Existem graus de pecado? Serão alguns pecados piores do que outros?
A
pergunta pode ser respondida de modo afirmativo ou negativo, dependendo do
sentido que se lhe dê.
a. Culpa
legal. No tocante à nossa posição legal perante Deus, qualquer pecado,
mesmo aquilo que nos pareça um pecado leve, torna-nos legalmente culpados
perante Deus e, portanto, dignos de castigo eterno. Adão e Eva aprenderam isso
no jardim do Éden, onde Deus lhes disse que um só ato de desobediência
resultaria na pena de morte (Gn 2.17). E Paulo afirma que “o julgamento derivou
de uma só ofensa, para a conde-nação” (Rm 5.16). Esse único pecado tornou Adão
e Eva pecadores perante Deus, já incapazes de permanecer na santa presença
divina.
Essa
verdade permanece válida durante toda a história da raça humana. Paulo (citando
Dt 27.26) a confirma: “Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da
Lei, para praticá-las” (Gl 3.10). E Tiago declara:
Qualquer que guarda
toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto,
aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não
adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei (Tg 2.10-11).
Portanto,
em termos de culpa legal, todos os pecados são igualmente maus, pois nos fazem
legalmente culpados perante Deus e nos constituem pecadores.
b. Conseqüências
na vida e no relacionamento com Deus. Por outro lado, alguns pecados são
piores do que outros, pois trazem conseqüências mais danosas para nós e para os
outros e, no tocante ao nosso relacionamento pessoal com Deus Pai, provocam-lhe
desprazer e geram ruptura mais grave na nossa comunhão com ele.
As
Escrituras às vezes falam de níveis de gravidade do pecado. Estando Jesus
diante de Pôncio Pilatos, disse ele: “Quem me entrega a ti maior pecado tem” (Jo 19.11). A referência é aparentemente a Judas,
que convivera com Jesus durante três anos e, no entanto, deliberadamente o
traía entregando-o à morte. Embora Pilatos tivesse autoridade sobre Jesus em
virtude do seu cargo no governo, mesmo sendo errado permitir que um homem
inocente fosse condenado à morte, o pecado de Judas era bem “maior”, provavelmente
por causa do conhecimento bem maior e da malícia associada e esse conhecimento.
5. O que acontece quando um cristão peca?
a. Nossa
posição legal perante Deus fica inalterada. Embora esse assunto pudesse ser
abordado adiante, juntamente com a adoção ou a santificação dentro da vida
cristã, convém certamente abordá-lo aqui.
Quando
o cristão peca, sua posição legal perante Deus permanece inalterada. Ele ainda
assim é perdoado, pois “já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus” (Rm 8.1). A salvação não se baseia nos nossos méritos, mas é dádiva
gratuita de Deus (Rm 6.23), e a morte de Cristo sem dúvida nenhuma expiou todos
os nossos pecados — passados, presentes e futuros; Cristo morreu “pelos nossos
pecados” (1Co 15.3), sem distinção. Em termos teológicos, conservamos assim
nossa “justificação”.2 4
b. Nossa
comunhão com Deus se interrompe e nossa vida cristã se prejudica. Quando
pecamos, ainda que Deus não deixe de nos amar, ele se desgosta conosco. (Mesmo
o homem pode amar alguém e ao mesmo tempo se desgostar com esse alguém, como
qualquer pai pode confirmar, ou qualquer esposa, ou qualquer marido.) Paulo nos
diz que os cristãos podem entristecer “o Espírito de Deus” (Ef 4.30); quando
pecamos, lhe causamos pesar e ele se desgosta conosco. O autor de Hebreus nos
lembra que “o Senhor corrige a quem ama” (Hb 12.6, citando Pv 3.11-12) e que o
“Pai espiritual [...] nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos
participantes da sua santidade” (Hb 12.9-10).
c. O
perigo dos “evangélicos não convertidos”. Embora o cristão genuíno que peca
não perca a sua justificação ou adoção perante Deus (ver acima), convém deixar
bem claro que a mera associação a uma igreja evangélica, a mera conformidade
exterior aos parâmetros “cristãos” de conduta esperados, não garante a
salvação. Especialmente em sociedades e culturas em que para as pessoas é fácil
(ou mesmo natural) ser cristão, existe a possibilidade real de que alguns que
na verdade não nasceram de novo entrem na igreja. Se essas pessoas acabam cada
vez mais revelando desobediência a Cristo na sua conduta, não devem se deixar
iludir acreditando que ainda contam com justificação ou adoção na família de
Deus.
6. Qual é o pecado imperdoável?
Várias
passagens bíblicas falam de um pecado que não será perdoado. Jesus diz Mt
12.31-32, e Mc 3.29; cf. Lc 12.10. Essas
passagens talvez falem do mesmo pecado, talvez de pecados diferentes; para
decidir, é preciso fazer um exame das passagens dentro dos seus contextos.
E. O castigo do pecado
Embora o castigo divino
do pecado funcione realmente como elemento inibidor
contra novos pecados e como alerta
àqueles que o testemunham, não é essa a razão principal pela qual Deus pune o
pecado. A razão primeira é que a justiça
de Deus o exige, para que ele seja glorificado no universo que criou. Ele é
o Senhor que pratica “misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas
coisas me agrado, diz o Senhor”
(Jr 9.24).
Teologia
Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova.
Fraternalmente em Cristo.
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