sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A IMPORTÂNCIA DA GENEALOGIA NA BÍBLIA


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O verbo hebraico utilizado para registrar a descendência legítima é yahhás, traduzido como "ser registrado genealogicamente" (1 Cr 5.17), enquanto o substantivo correlato é yáhhas, traduzido por "registro genealógico" (Ne 7.5). Já o termo grego genealogía aparece em passagens do Novo Testamento, como 1 Timóteo 1.4 e Tito 3.9, sendo utilizado para se referir a linhagens ou "genealogias" pessoais.

A genealogia, no contexto bíblico, possui um valor significativo e um propósito claro, conforme ilustrado em passagens como Gênesis 46.1-27, Êxodo 1.1-6, Números 1.1-46, 2.1-34 e 3.1-51, que descrevem serviços relacionados ao Tabernáculo, mas também contêm listas de nomes. Além disso, o livro de Esdras apresenta listas de pessoas que retornaram da Babilônia com Esdras (capítulo 8) e de aqueles que se arrependeram, despedindo suas esposas heteias (capítulo 10). Neemias 7 também faz referência ao retorno dos exilados, com ênfase nos nomes daqueles que voltaram do cativeiro. No entanto, esses registros não constituem genealogias propriamente ditas, mas sim listas de nomes. Por outro lado, os primeiros capítulos de 1 Crônicas, especialmente os capítulos 1 a 9, demandam especial atenção, uma vez que o autor dedica uma porção substancial de seu texto à genealogia, representando entre 25% e 30% do livro, o que, à luz de uma contagem real de palavras, constitui um aspecto digno de reflexão profunda.

É relevante ressaltar que o ser humano possui um desejo inato de conhecer seus ascendentes e manter vivo o nome de sua família. Na antiguidade, diversas nações mantiveram registros genealógicos extensos, particularmente de linhagens reais e sacerdotais. No entanto, para muitos leitores contemporâneos, a genealogia parece ser um registro sem importância, muitas vezes percebido como uma leitura tediosa e despropositada. Essa falta de interesse pode ser atribuída à ausência de compreensão sobre o significado desses registros ou à dificuldade em entender por que alguém mencionaria tantos nomes. Todavia, não se pode acreditar que o cronista tenha se dedicado a esses registros apenas para preencher o espaço. No mundo antigo, a identidade de uma pessoa estava profundamente enraizada na família e, muitas vezes, em seu clã ou tribo. A etnia e a origem familiar eram fundamentais para a identidade pública e privada de um indivíduo naquela época. Assim, uma interpretação comum entre os estudiosos é que o objetivo central do autor de Crônicas era reforçar a ideia de unidade e fidelidade de Israel, um povo disperso e desacreditado durante o período do cativeiro. Além disso, algumas genealogias buscavam estabelecer laços de parentesco entre Israel e tribos vizinhas, enquanto outras legitimavam a posição de indivíduos com autoridade.

As genealogias bíblicas, especialmente as presentes em 1 Crônicas, refletem uma visão teleológica da história, isto é, uma visão que vê a humanidade como movendo-se em direção a um propósito divino. Vale lembrar que os nove primeiros capítulos de Crônicas cobrem a história de Adão até o retorno dos exilados, funcionando como uma síntese de toda a história sagrada anterior. Nesse sentido, as genealogias são mais do que registros de antepassados; elas representam o "lugar" de uma pessoa, sua origem, e definem quem pertence ou não àquela família. Dessa forma, as genealogias desempenham um papel crucial na afirmação da importância de Israel e sua unidade, reforçando a ideia de que o povo de Deus é um povo com uma história contínua e uma promessa divina a ser cumprida.

A. R. Buckland, em seus escritos, destaca que nenhuma nação, em qualquer outro período histórico, foi tão diligente em conservar suas genealogias quanto o povo de Israel. Os estudiosos, ao analisarem essas genealogias, frequentemente as dividem em duas formas principais: a linear e a lateral. A genealogia linear foca em uma linhagem única, rastreando a descendência de geração em geração, enquanto a lateral examina várias linhagens paralelas, de "irmãos" ou grupos simultâneos. Essa análise pode se concentrar em localizar descendentes ou, em outros casos, antepassados. Portanto, os nomes frequentemente mencionados nas genealogias não representam apenas indivíduos, mas também clãs, localidades ou até mesmo cidades fundadas por esses grupos.

A inclusão das genealogias no contexto bíblico, especialmente no livro de Crônicas, serve a diversos propósitos. Para os exilados que retornavam, elas proporcionavam um elo com os antepassados e um reconhecimento de seu papel histórico no plano de redenção. Essas listas permitiam a recuperação e valorização das origens de forma consciente e espiritual. Além disso, as genealogias também mostram como Deus, de maneira soberana, preservou Seu povo no período pós-exílio. Por fim, a genealogia facilitava o repovoamento das terras de acordo com as propriedades hereditárias das famílias. Para alguns teólogos, o principal objetivo das genealogias era planejar a origem dos descendentes de uma linhagem familiar, através da qual Deus traria a salvação ao mundo.

No Novo Testamento, a genealogia de Jesus Cristo é apresentada por Mateus, que inicia seu evangelho com a seguinte introdução: "O livro da história, ou seja, génesis, de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão" (Mt 1.1). A palavra grega génesis significa literalmente "descendência" ou "origem". Esse termo é utilizado pela Septuaginta para traduzir o hebraico tohledhóth, que possui o mesmo significado, denotando "história", como ocorre no livro de Gênesis (2.4). Através dessa genealogia, Mateus conecta Jesus às figuras fundamentais da história judaica: Abraão, o patriarca, e Davi, o rei prometido. Assim, Mateus não apenas registra a genealogia de Cristo, mas também a utiliza para unir a pessoa de Jesus à história de salvação já em curso, demonstrando que Ele cumpre as promessas feitas a esses personagens-chave.

Portanto, a genealogia bíblica tem uma importância fundamental na construção do relato sagrado. Ela não serve apenas como um registro de ascendência, mas como um elo vital entre o passado e o futuro, entre o plano divino e a história humana. Ao traçar as origens de Jesus, Mateus não está apenas apresentando um simples histórico familiar, mas está afirmando que a história de salvação de Deus se cumpre na pessoa de Cristo, ligando-o ao povo de Israel e às promessas feitas a ele. A genealogia, portanto, é um instrumento teológico que destaca a soberania de Deus e a continuidade de Sua obra ao longo da história.

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  1. Yahhás e yáhhas são termos hebraicos que se referem ao registro de descendências, sendo usados no contexto da preservação da linhagem e da identidade ancestral do povo de Israel.
  2. O livro de 1 Crônicas, em especial os primeiros nove capítulos, tem um foco significativo em genealogias, o que reflete o interesse do autor em preservar e afirmar a continuidade da identidade israelita.
  3. A genealogia de Jesus em Mateus não é meramente um registro histórico, mas uma afirmação teológica que une a pessoa de Cristo ao cumprimento das promessas feitas a Abraão e Davi.

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                                                Josué de Asevedo Soares.


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