quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Os Nomes de Deus e Seus Atributos: Uma Análise Teológica

 

Por : Josué de A. Soares

Resumo

O presente artigo busca examinar a relevância dos nomes e atributos de Deus na teologia cristã, destacando como esses elementos revelam a essência e a obra divina. A partir da análise bíblica e da reflexão de teólogos como Agostinho, Tomás de Aquino, João Calvino, Herman Bavinck e Karl Barth, procura-se compreender de que modo os nomes de Deus expressam Sua autocomunicação e como os atributos constituem categorias de conhecimento teológico. A pesquisa enfatiza que tanto os nomes quanto os atributos não são construções humanas arbitrárias, mas expressões da revelação.

Palavras-chave: Nomes de Deus. Atributos Divinos. Teologia Sistemática. Revelação.

Introdução

A reflexão sobre Deus constitui o núcleo da teologia cristã. Embora o Ser divino seja transcendente e insondável (Rm 11.33), a Escritura Sagrada revela aspectos de Sua natureza por meio de nomes e atributos. Os nomes de Deus, presentes em ambos os Testamentos, carregam significados teológicos profundos que expressam Sua identidade e ação no tempo e na história. Da mesma forma, os atributos divinos representam uma tentativa de sistematizar as perfeições que pertencem à essência de Deus.

Este estudo busca desenvolver uma compreensão acadêmica sobre os nomes e atributos de Deus, dialogando com a tradição bíblica e as percepções dos principais teólogos da história da Igreja.

1. Os Nomes de Deus na Escritura

1.1. Nomes no Antigo Testamento

Os nomes de Deus no Antigo Testamento não são meras designações linguísticas, mas expressam revelações progressivas de Seu ser e caráter. Entre os principais:

  • Elohim: primeiro nome de Deus na Bíblia (Gn 1.1), enfatiza Sua majestade e poder criador.
  • YHWH (Tetragrama): revelado a Moisés em Êx 3.14, expressa a autoexistência divina (“Eu Sou o que Sou”).
  • Adonai: título que denota soberania e domínio, traduzido como “Senhor” (Sl 8.1).
  • El Shaddai: “Deus Todo-Poderoso”, revelado a Abraão (Gn 17.1), indicando suficiência e poder absoluto.
  • El Elyon: “Deus Altíssimo”, relacionado à supremacia divina (Gn 14.18).

Segundo Bavinck, “os nomes de Deus são a revelação de Seu ser e não projeções humanas; neles Deus se dá a conhecer”¹.

1.2. Nomes no Novo Testamento

No Novo Testamento, os nomes assumem uma dimensão cristológica.

  • Theos: termo grego para Deus, usado mais de mil vezes, traduzindo o hebraico Elohim.
  • Kyrios: título aplicado a Cristo, identificando-o com YHWH do Antigo Testamento (Fp 2.11).
  • Pater (Pai): Jesus introduz a compreensão relacional de Deus como Pai, revelando intimidade e paternidade divina (Mt 6.9).

Karl Barth enfatiza que “o nome de Deus é o testemunho histórico de Sua autocomunicação em Jesus Cristo”².

2. Atributos de Deus

2.1. Conceituação e Classificação

A teologia sistemática frequentemente divide os atributos de Deus em duas categorias:

  • Incomunicáveis: aqueles que pertencem somente a Deus e não são compartilhados com as criaturas (ex.: imutabilidade, eternidade, onisciência).
  • Comunicáveis: aqueles que, de maneira analógica, podem ser refletidos em parte no ser humano (ex.: amor, santidade, justiça).

Agostinho afirmou que os atributos não são acréscimos à essência divina, mas expressões do próprio ser de Deus³.

2.2. Atributos Incomunicáveis

  • Eternidade: Deus existe fora do tempo (Sl 90.2).
  • Imutabilidade: Deus não muda em Seu ser e propósitos (Ml 3.6).
  • Onipotência: todo-poderoso, nada Lhe é impossível (Jr 32.17).
  • Onisciência: conhecimento pleno e perfeito (Sl 139.1-6).
  • Onipresença: presença absoluta em todo lugar (Sl 139.7-10).

Tomás de Aquino descreve esses atributos como “perfeições puras”, existentes em Deus de maneira ilimitada⁴.

2.3. Atributos Comunicáveis

  • Santidade: essência moral de Deus, distinto do pecado (Is 6.3).
  • Amor: essência revelada plenamente em Cristo (1Jo 4.8).
  • Justiça: Deus age em conformidade com Sua santidade e retidão (Sl 89.14).
  • Misericórdia: disposição compassiva para com os fracos e pecadores (Ef 2.4-5).
  • Fidelidade: Deus cumpre Suas promessas (Lm 3.23).

Calvino observou que os atributos “não fragmentam Deus, mas são modos de perceber a unidade de Sua essência”⁵.

3. A Síntese Teológica dos Nomes e Atributos

A tradição cristã converge no entendimento de que os nomes e atributos de Deus são dons da revelação. Eles não esgotam o mistério divino, mas possibilitam à Igreja conhecer e adorar a Deus de forma inteligível. Barth ressalta que toda tentativa de falar sobre Deus deve ser orientada pela revelação em Cristo, o Verbo encarnado, no qual todos os nomes e atributos se cumprem plenamente⁶.

Conclusão

O estudo dos nomes e atributos de Deus não é apenas exercício acadêmico, mas também devocional. A revelação de Deus por meio de Seus nomes comunica Sua presença e ação no tempo, enquanto os atributos revelam Sua essência eterna e perfeita. Os teólogos da tradição cristã ressaltam que tais categorias não reduzem o mistério divino, mas oferecem à Igreja uma linguagem de louvor, doutrina e adoração.

Assim, refletir sobre os nomes e atributos de Deus significa reconhecer a grandeza do Deus transcendente que se revelou em Cristo e continua a se dar a conhecer pela Escritura e pela fé.

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  1. Herman Bavinck, Reformed Dogmatics, vol. 2 (Grand Rapids: Baker Academic, 2004).
  2. Karl Barth, Church Dogmatics, vol. II/1 (Edinburgh: T&T Clark, 1957).
  3. Agostinho, A Trindade (São Paulo: Paulus, 1994).
  4. Tomás de Aquino, Suma Teológica (São Paulo: Loyola, 2001).
  5. João Calvino, Institutas da Religião Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2006).
  6. Barth, Church Dogmatics, vol. II/1.

 

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