Por : Josué de A. Soares
Resumo
O presente artigo busca examinar a relevância dos
nomes e atributos de Deus na teologia cristã, destacando como esses elementos
revelam a essência e a obra divina. A partir da análise bíblica e da reflexão
de teólogos como Agostinho, Tomás de Aquino, João Calvino, Herman Bavinck e
Karl Barth, procura-se compreender de que modo os nomes de Deus expressam Sua
autocomunicação e como os atributos constituem categorias de conhecimento
teológico. A pesquisa enfatiza que tanto os nomes quanto os atributos não são construções
humanas arbitrárias, mas expressões da revelação.
Palavras-chave: Nomes de Deus. Atributos
Divinos. Teologia Sistemática. Revelação.
Introdução
A reflexão sobre Deus constitui o núcleo da
teologia cristã. Embora o Ser divino seja transcendente e insondável (Rm
11.33), a Escritura Sagrada revela aspectos de Sua natureza por meio de nomes e
atributos. Os nomes de Deus, presentes em ambos os Testamentos, carregam
significados teológicos profundos que expressam Sua identidade e ação no tempo
e na história. Da mesma forma, os atributos divinos representam uma tentativa
de sistematizar as perfeições que pertencem à essência de Deus.
Este estudo busca desenvolver uma compreensão
acadêmica sobre os nomes e atributos de Deus, dialogando com a tradição bíblica
e as percepções dos principais teólogos da história da Igreja.
1. Os Nomes de Deus na Escritura
1.1. Nomes no Antigo Testamento
Os nomes de Deus no Antigo Testamento não são meras
designações linguísticas, mas expressam revelações progressivas de Seu ser e
caráter. Entre os principais:
- Elohim: primeiro nome de Deus na
Bíblia (Gn 1.1), enfatiza Sua majestade e poder criador.
- YHWH
(Tetragrama):
revelado a Moisés em Êx 3.14, expressa a autoexistência divina (“Eu Sou o
que Sou”).
- Adonai: título que denota
soberania e domínio, traduzido como “Senhor” (Sl 8.1).
- El
Shaddai:
“Deus Todo-Poderoso”, revelado a Abraão (Gn 17.1), indicando suficiência e
poder absoluto.
- El
Elyon:
“Deus Altíssimo”, relacionado à supremacia divina (Gn 14.18).
Segundo Bavinck, “os nomes de Deus são a revelação
de Seu ser e não projeções humanas; neles Deus se dá a conhecer”¹.
1.2. Nomes no Novo Testamento
No Novo Testamento, os nomes assumem uma dimensão
cristológica.
- Theos: termo grego para Deus,
usado mais de mil vezes, traduzindo o hebraico Elohim.
- Kyrios: título aplicado a Cristo,
identificando-o com YHWH do Antigo Testamento (Fp 2.11).
- Pater
(Pai):
Jesus introduz a compreensão relacional de Deus como Pai, revelando
intimidade e paternidade divina (Mt 6.9).
Karl Barth enfatiza que “o nome de Deus é o
testemunho histórico de Sua autocomunicação em Jesus Cristo”².
2. Atributos de Deus
2.1. Conceituação e Classificação
A teologia sistemática frequentemente divide os
atributos de Deus em duas categorias:
- Incomunicáveis: aqueles que pertencem
somente a Deus e não são compartilhados com as criaturas (ex.:
imutabilidade, eternidade, onisciência).
- Comunicáveis: aqueles que, de maneira
analógica, podem ser refletidos em parte no ser humano (ex.: amor,
santidade, justiça).
Agostinho afirmou que os atributos não são
acréscimos à essência divina, mas expressões do próprio ser de Deus³.
2.2. Atributos Incomunicáveis
- Eternidade: Deus existe fora do tempo
(Sl 90.2).
- Imutabilidade: Deus não muda em Seu ser e
propósitos (Ml 3.6).
- Onipotência: todo-poderoso, nada Lhe é
impossível (Jr 32.17).
- Onisciência: conhecimento pleno e
perfeito (Sl 139.1-6).
- Onipresença: presença absoluta em todo
lugar (Sl 139.7-10).
Tomás de Aquino descreve esses atributos como
“perfeições puras”, existentes em Deus de maneira ilimitada⁴.
2.3. Atributos Comunicáveis
- Santidade: essência moral de Deus,
distinto do pecado (Is 6.3).
- Amor: essência revelada
plenamente em Cristo (1Jo 4.8).
- Justiça: Deus age em conformidade
com Sua santidade e retidão (Sl 89.14).
- Misericórdia: disposição compassiva para
com os fracos e pecadores (Ef 2.4-5).
- Fidelidade: Deus cumpre Suas promessas
(Lm 3.23).
Calvino observou que os atributos “não fragmentam
Deus, mas são modos de perceber a unidade de Sua essência”⁵.
3. A Síntese Teológica dos Nomes
e Atributos
A tradição cristã converge no entendimento de que
os nomes e atributos de Deus são dons da revelação. Eles não esgotam o mistério
divino, mas possibilitam à Igreja conhecer e adorar a Deus de forma
inteligível. Barth ressalta que toda tentativa de falar sobre Deus deve ser
orientada pela revelação em Cristo, o Verbo encarnado, no qual todos os nomes e
atributos se cumprem plenamente⁶.
Conclusão
O estudo dos nomes e atributos de Deus não é apenas
exercício acadêmico, mas também devocional. A revelação de Deus por meio de
Seus nomes comunica Sua presença e ação no tempo, enquanto os atributos revelam
Sua essência eterna e perfeita. Os teólogos da tradição cristã ressaltam que
tais categorias não reduzem o mistério divino, mas oferecem à Igreja uma
linguagem de louvor, doutrina e adoração.
Assim, refletir sobre os nomes e atributos de Deus
significa reconhecer a grandeza do Deus transcendente que se revelou em Cristo e
continua a se dar a conhecer pela Escritura e pela fé.
______________________________________________________________________
- Herman Bavinck, Reformed
Dogmatics, vol. 2 (Grand Rapids: Baker Academic, 2004).
- Karl Barth, Church
Dogmatics, vol. II/1 (Edinburgh: T&T Clark, 1957).
- Agostinho, A Trindade
(São Paulo: Paulus, 1994).
- Tomás de Aquino, Suma
Teológica (São Paulo: Loyola, 2001).
- João Calvino, Institutas
da Religião Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2006).
- Barth, Church Dogmatics,
vol. II/1.
Aleluia!
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