Autor: Josué de Asevedo Soares
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar uma
análise histórico-teológica das Dezesseis Verdades Fundamentais das
Assembleias de Deus, formuladas em 1914, no contexto do primeiro Concílio Geral
das Assembleias de Deus em Hot Springs, Arkansas (EUA). Busca-se compreender o
desenvolvimento doutrinário e a estrutura teológica dessas verdades,
ressaltando sua importância para a consolidação da identidade pentecostal e sua
atual relevância para a fé e a prática cristã. A metodologia emprega revisão
bibliográfica de autores clássicos do movimento pentecostal, bem como análise
documental das declarações oficiais.
Palavras-chave: Assembleias de Deus. Doutrina.
Pentecostalismo. Teologia sistemática.
Introdução
O início do século XX foi marcado por um forte
movimento de renovação espiritual, que deu origem ao pentecostalismo clássico.
O avivamento da Rua Azusa, em 1906, em Los Angeles, tornou-se o ponto de
partida de um fenômeno mundial. Em 1914, um grupo de pastores e evangelistas
pentecostais reuniu-se em Hot Springs, no estado do Arkansas (EUA), para
estabelecer uma organização e uma base doutrinária comum, nascendo assim o Concílio
Geral das Assembleias de Deus (General Council of the Assemblies of God)¹.
Esse evento resultou na formulação das Dezesseis
Verdades Fundamentais, uma confissão de fé que serviria como guia teológico
e normativo para as igrejas filiadas. Essas declarações tornaram-se referência
para o movimento pentecostal em todo o mundo, sendo posteriormente adotadas
pela Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB).
O presente estudo propõe-se a examinar essas
verdades sob duas perspectivas complementares: (1) o contexto
histórico-teológico de sua formulação e (2) a análise doutrinária de seu
conteúdo à luz da teologia pentecostal clássica.
1. Contexto histórico e teológico das 16 Verdades
Fundamentais
A formulação das Verdades Fundamentais foi uma
resposta à necessidade de unidade doutrinária dentro de um movimento nascente e
em rápida expansão. Embora o avivamento da Rua Azusa tivesse promovido uma
profunda experiência espiritual, havia divergências quanto a aspectos
teológicos centrais, como a Trindade, a santificação e a evidência inicial do
batismo no Espírito Santo².
Segundo Horton (1996, p. 23), “o movimento
pentecostal necessitava de um credo bíblico que expressasse a fé dos crentes no
poder do Espírito, sem cair no formalismo das tradições históricas, mas também
sem perder o equilíbrio teológico”.
A Assembleia de Deus nasceu, portanto, com o
propósito de unir os cristãos pentecostais em torno de verdades essenciais,
preservando tanto a ortodoxia bíblica quanto a experiência espiritual.
No Brasil, as primeiras igrejas assembleianas,
fundadas pelos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren em 1911, logo
adotaram as mesmas verdades como referência doutrinária. Assim, a fé
assembleiana consolidou-se como uma expressão genuinamente pentecostal,
enraizada nas Escrituras e centrada em Cristo³.
2. Estrutura teológica das 16 Verdades Fundamentais
As Verdades Fundamentais podem ser agrupadas em
quatro eixos principais:
- Revelação e Doutrina de Deus
(1–3);
- A Salvação e a Vida Cristã
(4–9);
- A Igreja e sua Missão
(10–12);
- As Últimas Coisas (13–16).
Essa organização reflete uma teologia sistemática
completa, que abrange desde a inspiração das Escrituras até a escatologia
final.
2.1 A Inspiração das Escrituras e a Natureza de
Deus
A primeira verdade afirma a inspiração verbal e
plenária das Escrituras, reconhecendo a Bíblia como regra infalível de fé e
prática (2Tm 3.16). Conforme Pearlman (2006, p. 17), “a autoridade da Igreja
não reside na tradição, mas na Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo”.
As doutrinas seguintes tratam da unicidade de Deus
e da divindade de Jesus Cristo, estabelecendo a base trinitária da fé cristã. A
expressão “um só Deus em três pessoas” constitui o alicerce da ortodoxia pentecostal,
distinguindo as Assembleias de Deus de movimentos unicistas, como o Jesus
Only, que surgiram na mesma época⁴.
2.2 O Homem, o Pecado e a Salvação
A quarta e a quinta verdades tratam da queda e da
salvação do homem. A salvação é apresentada como um ato de graça mediante a fé
no sacrifício de Cristo (Ef 2.8–9). Horton (1996, p. 87) observa que “a
regeneração e a justificação são operações do Espírito Santo, conduzindo o
crente a uma nova vida em Cristo”.
As ordenanças da Igreja, o batismo em águas e a
Ceia do Senhor,
são símbolos visíveis da fé, não meios de salvação.
Representam a obediência à Palavra e a comunhão com o corpo de Cristo.
3.3 O Batismo no Espírito Santo e a Santificação
As verdades de número sete e oito são distintamente
pentecostais. A Assembleia de Deus ensina que o Batismo no Espírito Santo
é uma experiência subsequente à salvação e que o sinal físico inicial é
o falar em outras línguas, conforme Atos 2.4.
Segundo Eurico Bergstén (1994, p. 210), “o batismo
no Espírito Santo não é um privilégio para alguns, mas uma promessa universal
aos que creem”. A santificação, por sua vez, é um processo progressivo de
separação do pecado e conformação à imagem de Cristo (1Ts 4.3).
2.4 A Igreja, o Ministério e a Cura Divina
As verdades 10 a 12 abordam a natureza e a missão
da Igreja. Ela é o corpo de Cristo, chamada para adorar a Deus, evangelizar o
mundo e edificar os santos. Os ministérios são dons concedidos pelo Espírito
Santo para o serviço cristão (Ef 4.11–12).
A cura divina é reconhecida como parte integrante
do evangelho, sendo provida na expiação de Cristo (Is 53.4–5). Antônio Gilberto
(2008, p. 254) observa que “o ministério de Jesus nunca se separou da
proclamação e da cura; o mesmo deve caracterizar a Igreja contemporânea”.
2.5 A Esperança Escatológica
As últimas quatro verdades (13–16) expressam a
esperança escatológica assembleiana: o arrebatamento da Igreja, o Reino Milenar
de Cristo, o Juízo Final e os Novos Céus e Nova Terra.
Pearlman (2006, p. 317) destaca que “a esperança do
crente é a vinda iminente de Cristo, que constitui o clímax da história da
redenção”. Essa expectativa escatológica tem influenciado profundamente a
espiritualidade assembleiana, promovendo santidade, vigilância e fervor
missionário.
3. Relevância contemporânea das 16 Verdades
Fundamentais
Mais de um século após sua formulação, as 16
Verdades Fundamentais permanecem como o pilar doutrinário das Assembleias de
Deus em todo o mundo. Em tempos de pluralismo religioso e relativismo moral,
essas verdades oferecem uma referência sólida e bíblica para a fé cristã.
A teologia pentecostal contemporânea, ao revisitar
suas raízes, reconhece que a vitalidade espiritual do movimento depende de sua
fidelidade às doutrinas centrais reveladas nas Escrituras⁵.
Horton (1996, p. 411) observa que “a Igreja que se
mantém firme na Palavra e na experiência do Espírito não envelhece, mas
renova-se continuamente no poder do alto”. Assim, as 16 Verdades Fundamentais
não são apenas um documento histórico, mas uma confissão viva, capaz de
orientar a Igreja na missão de proclamar o evangelho até os confins da Terra.
Conclusão
As 16 Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus
constituem uma síntese teológica notável, que une doutrina e experiência,
ortodoxia e espiritualidade. Desde 1914, têm servido como um farol de
orientação para milhões de crentes no mundo.
Sua relevância ultrapassa os limites
institucionais, pois expressa uma fé centrada em Cristo, fundamentada nas
Escrituras e vivificada pelo Espírito Santo. A fidelidade a essas verdades é o
que assegura a continuidade e a autenticidade do testemunho pentecostal no
século XXI.
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¹ Cf. Minutes
of the First General Council of the Assemblies of God, 1914.
² HORTON, Stanley M. A Doutrina Bíblica do Espírito Santo, CPAD, 1996.
³ BERGSTÉN, Eurico. Doutrinas Bíblicas, CPAD, 1994.
⁴ PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, CPAD, 2006.
⁵ GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal, CPAD, 2008.
Bibliográficas
BERGSTÉN,
Eurico. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Fé Cristã. Rio de Janeiro:
CPAD, 1994.
GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2008.
HORTON, Stanley M. A Doutrina Bíblica do Espírito Santo. Rio de Janeiro:
CPAD, 1996.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. 31. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006.
Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2011.

Parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirMuito produtivo a mensagem!
ResponderExcluirVou compartilhar.
ResponderExcluirProfessor, será que não conseguiria publicar na CPAD, seu artigo. Eles são bons. Parabéns!
ResponderExcluirAchei proveitoso!
ResponderExcluirDeus abençoe sua vida!
ResponderExcluirAleluia!
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