sexta-feira, 7 de novembro de 2025

AS 16 VERDADES FUNDAMENTAIS DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS: EQUILÍBRIO ENTRE A HERANÇA WESLEYANA, O MOVIMENTO HOLINESS E A TEOLOGIA REFORMADA

 

Por Josué de Asevedo Soares

Resumo

O presente artigo analisa as 16 Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus como uma síntese teológica equilibrada entre a herança wesleyana, a influência do movimento Holiness e a teologia reformada. Busca-se demonstrar como o pensamento pentecostal clássico, ao adotar essas doutrinas em 1916, consolidou uma teologia bíblica que une a ortodoxia reformada à experiência espiritual wesleyano-holiness, preservando tanto a fidelidade às Escrituras quanto a ênfase na santidade e no poder do Espírito Santo.

Palavras-chave: Pentecostalismo; Assembleias de Deus; Santificação; Herança Wesleyana; Teologia Reformada.

Introdução

As 16 Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus foram formuladas nos Estados Unidos em 1916, no contexto da consolidação do movimento pentecostal.¹ O objetivo era salvaguardar a identidade teológica das Assembleias diante das controvérsias doutrinárias e das influências de outras tradições cristãs. Essas verdades refletem uma síntese singular entre três matrizes históricas: o wesleyanismo metodista, o movimento Holiness e a teologia reformada.

Segundo Donald Dayton, o pentecostalismo é fruto de uma “corrente de santidade intensificada” que se originou no metodismo e floresceu no Holiness, levando à busca por uma nova experiência do Espírito.² Já Stanley Horton afirma que as Verdades Fundamentais revelam uma “teologia de equilíbrio”, que une fidelidade bíblica e experiência espiritual.³

1. A herança wesleyana: santificação e vida cristã prática

A influência wesleyana se manifesta nas Verdades Fundamentais especialmente nas doutrinas da salvação, santificação e vida cristã prática. John Wesley (1703–1791) enfatizava a graça divina como dinâmica transformadora: a graça preveniente desperta o pecador, a graça justificante o perdoa e a graça santificante o conduz à perfeição cristã.⁴

Essa teologia aparece nas Verdades Fundamentais, por exemplo:

  • Verdade 5 – Salvação do homem: enfatiza a justificação pela fé e o novo nascimento pela graça.
  • Verdade 9 – Santificação: descreve o processo contínuo de transformação moral e espiritual do crente.

Ao contrário do perfeccionismo instantâneo do metodismo inicial, as Assembleias de Deus adotaram a visão de santificação progressiva, em consonância com o ensino bíblico de crescimento espiritual (2Pe 3.18). Myer Pearlman observou que “a santificação não é o fim da obra redentora, mas o processo contínuo pelo qual o Espírito conforma o crente à imagem de Cristo”.⁵

Desse modo, a tradição wesleyana contribuiu para a dimensão ética e espiritual da fé pentecostal, enfatizando que a experiência carismática deve sempre conduzir à santidade de vida.

2. O movimento Holiness: a experiência subsequente e o poder espiritual

O movimento Holiness do século XIX foi o elo histórico entre o metodismo e o pentecostalismo. Pregadores como Phoebe Palmer e Charles Finney difundiram a ideia de uma “segunda bênção”, uma experiência subsequente à conversão, que capacitava o crente a viver em santidade e poder.⁶

As Assembleias de Deus herdaram essa estrutura teológica, mas reinterpretaram-na à luz da experiência pentecostal: a segunda bênção” se tornou o batismo no Espírito Santo, acompanhado da evidência inicial de falar em outras línguas (Verdade 8). Essa doutrina representou a transposição da teologia Holiness para o contexto do avivamento pentecostal.

Roger Stronstad argumenta que a teologia pentecostal clássica é essencialmente carismática, fundamentada na experiência dos crentes em Atos dos Apóstolos, e não apenas soteriológica.⁷ Assim, o batismo no Espírito não é apenas um complemento da salvação, mas o empoderamento para o serviço e testemunho (At 1.8).

A espiritualidade Holiness, centrada na busca por pureza e poder, moldou a ênfase assembleiana na vida cheia do Espírito, equilibrando emoção e doutrina, experiência e Escritura.

3. A teologia reformada: fundamento bíblico e doutrina da graça

Embora o pentecostalismo clássico tenha raízes wesleyanas, as Assembleias de Deus preservaram elementos fundamentais da teologia reformada, especialmente quanto à autoridade da Escritura, à soteriologia e à centralidade de Cristo.

  • A Verdade 1 afirma a inspiração verbal e plenária da Bíblia, em harmonia com o princípio reformado da sola Scriptura.
  • As Verdades 5 e 6, sobre a salvação e as ordenanças, ressaltam a justificação pela fé e a obra redentora de Cristo, temas centrais da Reforma.
  • As Verdades 14 a 16, sobre escatologia, refletem a fidelidade à leitura literal das profecias e à esperança futura do retorno de Cristo.

Como observa Stanley Horton, a teologia das Assembleias de Deus “é profundamente bíblica, fundamentada na graça e na autoridade da Palavra, sem deixar de lado a dimensão experiencial que caracteriza o Novo Testamento”.⁸

Assim, a influência reformada fornece às Verdades Fundamentais a estabilidade doutrinária e a segurança bíblica, garantindo que a experiência espiritual seja sempre avaliada à luz das Escrituras.

4. O equilíbrio teológico

As 16 Verdades Fundamentais representam uma harmonização teológica entre três correntes históricas:

  • Da Reforma, a fidelidade doutrinária e a centralidade da graça;
  • Do Wesleyanismo, herdaram a busca pela santidade e vida ética;
  • Do Holiness, a ênfase na experiência subsequente e no poder do Espírito.

Esse equilíbrio impediu que o pentecostalismo assembleiano se tornasse meramente emocional (sem base doutrinária) ou friamente dogmático (sem experiência espiritual). Ele uniu a ortodoxia teológica à ortopraxia espiritual, fazendo das Assembleias de Deus uma tradição bíblica, viva e equilibrada.

Donald Dayton resume esse fenômeno como uma “síntese dinâmica entre santidade e poder”, onde a experiência do Espírito confirma e amplia a fé evangélica clássica.⁹

Conclusão

As 16 Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus são mais do que um credo denominacional: constituem uma síntese teológica madura, que equilibra santidade, experiência e graça.


A herança wesleyana fornece o fervor moral e espiritual; o Holiness oferece a dimensão experiencial e pneumatológica; e a teologia reformada garante o rigor exegético e doutrinário.

Essa tríplice influência fez do pentecostalismo assembleiano um movimento que une coração ardente e mente bíblica, experiência e teologia — um modelo de espiritualidade evangélica equilibrada para o século XXI.

 

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  1. Cf. HORTON, Stanley M. (Org.). Assembleias de Deus: 16 Verdades Fundamentais. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
  2. DAYTON, Donald W. Theological Roots of Pentecostalism. Peabody: Hendrickson, 1987, p. 23.
  3. HORTON, Stanley M. The Pentecostal Experience, 2005, p. 14.
  4. WESLEY, John. Sermons on Several Occasions, 1872, p. 85.
  5. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. CPAD, 1999, p. 214.
  6. Cf. DAYTON, Donald W., 1987, p. 78–83.
  7. STRONSTAD, Roger. The Charismatic Theology of St. Luke, 1984, p. 12–15.
  8. HORTON, Stanley M. (Org.), 2012, p. 45.
  9. DAYTON, Donald W., 1987, p. 201.

 

Bibliografia

DAYTON, Donald W. Theological Roots of Pentecostalism. Peabody: Hendrickson Publishers, 1987.
HORTON, Stanley M. The Pentecostal Experience: Evidence in the New Testament Patterns. Springfield: Gospel Publishing House, 2005.
HORTON, Stanley M. (Org.). Assembleias de Deus: 16 Verdades Fundamentais. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
STRONSTAD, Roger. The Charismatic Theology of St. Luke. Peabody: Hendrickson Publishers, 1984.
WESLEY, John. Sermons on Several Occasions. London: Epworth Press, 1872.

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