Por Josué de Asevedo Soares
Resumo
O presente artigo analisa as 16 Verdades Fundamentais das Assembleias de
Deus como uma síntese teológica equilibrada entre a herança wesleyana, a influência do movimento Holiness e a teologia reformada. Busca-se
demonstrar como o pensamento pentecostal clássico, ao adotar essas doutrinas em
1916, consolidou uma teologia bíblica que une a ortodoxia reformada à experiência
espiritual wesleyano-holiness, preservando tanto a fidelidade às Escrituras
quanto a ênfase na santidade e no poder do Espírito Santo.
Palavras-chave: Pentecostalismo; Assembleias de
Deus; Santificação; Herança Wesleyana; Teologia Reformada.
Introdução
As 16
Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus foram formuladas nos
Estados Unidos em 1916, no contexto da consolidação do movimento pentecostal.¹
O objetivo era salvaguardar a identidade teológica das Assembleias diante das
controvérsias doutrinárias e das influências de outras tradições cristãs. Essas
verdades refletem uma síntese singular
entre três matrizes históricas: o wesleyanismo
metodista, o movimento Holiness
e a teologia reformada.
Segundo Donald
Dayton, o pentecostalismo é fruto de uma “corrente de santidade
intensificada” que se originou no metodismo e floresceu no Holiness, levando à
busca por uma nova experiência do Espírito.² Já Stanley Horton afirma que as Verdades Fundamentais revelam uma
“teologia de equilíbrio”, que une fidelidade bíblica e experiência espiritual.³
1. A herança wesleyana: santificação e vida cristã
prática
A influência wesleyana se manifesta nas Verdades Fundamentais especialmente nas
doutrinas da salvação, santificação e vida cristã prática. John Wesley (1703–1791)
enfatizava a graça divina como dinâmica transformadora: a graça preveniente desperta o
pecador, a graça justificante
o perdoa e a graça santificante
o conduz à perfeição cristã.⁴
Essa
teologia aparece nas Verdades Fundamentais, por exemplo:
- Verdade
5 – Salvação do homem: enfatiza a justificação pela fé e o novo
nascimento pela graça.
- Verdade
9 – Santificação:
descreve o processo contínuo de transformação moral e espiritual do
crente.
Ao contrário do perfeccionismo instantâneo do metodismo inicial, as
Assembleias de Deus adotaram a visão de santificação
progressiva, em consonância com o ensino bíblico de crescimento
espiritual (2Pe 3.18). Myer Pearlman
observou que “a santificação não é o fim da obra redentora, mas o processo
contínuo pelo qual o Espírito conforma o crente à imagem de Cristo”.⁵
Desse modo, a tradição wesleyana contribuiu para a
dimensão ética e espiritual
da fé pentecostal, enfatizando que a experiência carismática deve sempre
conduzir à santidade de vida.
2. O movimento Holiness: a experiência subsequente
e o poder espiritual
O movimento
Holiness do século XIX foi o elo histórico entre o metodismo e o
pentecostalismo. Pregadores como Phoebe
Palmer e Charles Finney difundiram
a ideia de uma “segunda bênção”, uma experiência subsequente à conversão, que
capacitava o crente a viver em santidade e poder.⁶
As Assembleias de Deus herdaram essa estrutura
teológica, mas reinterpretaram-na à luz da experiência pentecostal: a “segunda bênção” se tornou o batismo no Espírito Santo,
acompanhado da evidência inicial de
falar em outras línguas (Verdade 8). Essa doutrina representou a transposição da teologia Holiness para o
contexto do avivamento pentecostal.
Roger Stronstad argumenta que a teologia
pentecostal clássica é essencialmente carismática,
fundamentada na experiência dos crentes em Atos dos Apóstolos, e não apenas
soteriológica.⁷ Assim, o batismo no Espírito não é apenas um complemento da
salvação, mas o empoderamento para o
serviço e testemunho (At 1.8).
A espiritualidade Holiness, centrada na busca por
pureza e poder, moldou a ênfase assembleiana na vida cheia do Espírito, equilibrando emoção e doutrina,
experiência e Escritura.
3. A teologia reformada: fundamento bíblico e
doutrina da graça
Embora o pentecostalismo clássico tenha raízes wesleyanas,
as Assembleias de Deus
preservaram elementos fundamentais da teologia
reformada, especialmente quanto à autoridade da Escritura, à soteriologia
e à centralidade de Cristo.
- A Verdade 1 afirma a inspiração
verbal e plenária da Bíblia, em harmonia com o princípio reformado
da sola Scriptura.
- As Verdades 5 e 6, sobre a salvação e as ordenanças, ressaltam a
justificação pela fé
e a obra redentora de Cristo,
temas centrais da Reforma.
- As Verdades 14 a 16, sobre escatologia, refletem a fidelidade à
leitura literal das profecias e à esperança futura do retorno de Cristo.
Como observa Stanley Horton, a teologia das Assembleias de Deus “é
profundamente bíblica, fundamentada na graça e na autoridade da Palavra, sem
deixar de lado a dimensão experiencial que caracteriza o Novo Testamento”.⁸
Assim, a influência reformada fornece às Verdades
Fundamentais a estabilidade doutrinária
e a segurança bíblica, garantindo que a experiência espiritual seja
sempre avaliada à luz das Escrituras.
4. O equilíbrio teológico
As 16 Verdades Fundamentais representam
uma harmonização teológica entre
três correntes históricas:
- Da Reforma, a fidelidade
doutrinária e a centralidade da graça;
- Do Wesleyanismo, herdaram a busca pela santidade e vida ética;
- Do Holiness, a ênfase na
experiência subsequente e no poder do Espírito.
Esse equilíbrio impediu que o pentecostalismo
assembleiano se tornasse meramente emocional
(sem base doutrinária) ou friamente dogmático
(sem experiência espiritual). Ele uniu a ortodoxia teológica à ortopraxia espiritual,
fazendo das Assembleias de Deus uma tradição bíblica, viva e equilibrada.
Donald Dayton resume esse fenômeno como uma
“síntese dinâmica entre santidade e poder”, onde a experiência do Espírito
confirma e amplia a fé evangélica clássica.⁹
Conclusão
As 16
Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus são mais do que um credo
denominacional: constituem uma síntese
teológica madura, que equilibra santidade,
experiência e graça.
A herança wesleyana fornece o
fervor moral e espiritual; o Holiness
oferece a dimensão experiencial e pneumatológica; e a teologia reformada garante o rigor exegético e doutrinário.
Essa tríplice influência fez do pentecostalismo
assembleiano um movimento que une coração
ardente e mente bíblica, experiência e teologia — um modelo de
espiritualidade evangélica equilibrada para o século XXI.
___________________________________________________________________
- Cf. HORTON, Stanley M.
(Org.). Assembleias de Deus: 16 Verdades Fundamentais. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012.
- DAYTON, Donald W. Theological
Roots of Pentecostalism. Peabody: Hendrickson, 1987, p. 23.
- HORTON, Stanley M. The
Pentecostal Experience, 2005, p. 14.
- WESLEY, John. Sermons on
Several Occasions, 1872, p. 85.
- PEARLMAN, Myer. Conhecendo
as Doutrinas da Bíblia. CPAD, 1999, p. 214.
- Cf. DAYTON, Donald W., 1987,
p. 78–83.
- STRONSTAD, Roger. The
Charismatic Theology of St. Luke, 1984, p. 12–15.
- HORTON, Stanley M. (Org.),
2012, p. 45.
- DAYTON, Donald W., 1987, p.
201.
Bibliografia
DAYTON,
Donald W. Theological Roots of Pentecostalism. Peabody: Hendrickson
Publishers, 1987.
HORTON, Stanley M. The Pentecostal Experience: Evidence in the New Testament
Patterns. Springfield: Gospel Publishing House, 2005.
HORTON, Stanley M. (Org.). Assembleias de Deus: 16 Verdades Fundamentais.
Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD,
1999.
STRONSTAD, Roger. The Charismatic Theology of St. Luke. Peabody:
Hendrickson Publishers, 1984.
WESLEY, John. Sermons on Several Occasions. London: Epworth Press, 1872.

Parabéns Prof. Josué. Deus abençoe!
ResponderExcluirBenção de ensinamento!
ResponderExcluirBenção de ensinamento!
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