Há na Bíblia Sagrada muitas
passagens que tratam do papel que cabe a igreja no contexto político em relação
ao Estado. Não podemos esquecer que o Antigo Testamento enfatiza muitos povos,
cada qual com o seu sistema de governo e a presença de inúmeras religiões e
inúmeros deuses, demonstrando assim, a sua crença politeísta. Em meio às muitas
nações podemos citar o Egito, onde o Faraó era cultuado e visto como um deus.
Em outros povos o poder religioso estava nas mãos dos sacerdotes da religião
oficial, os quais exerciam enormes influencia sobre o poder político que
normalmente, era exercido pelo rei. Já o
povo de Israel em sua formação como nação se desenvolve com a liderança de
Moisés e o governo de Deus, conhecido como teocracia. Entre os seus
contemporâneos, Israel nasce como uma religião monoteísta, pela sua fé em Deus
que os tirou com braço forte do Egito (Êxodo 3 a 11). Como já mencionamos o
governo de Israel era teocrático, portanto, no inicio de sua formação não havia
rei que governasse (Jz 17.6; 18.1; 21.25), posto que Deus mesmo era o seu
Senhor e Redentor. Mas com o passar dos tempos à formação política de Israel experimentou
a atuação de profetas, Juízes que se levantaram com a morte de Josué e
governaram cerca de 350 anos e depois veio a monarquia que foi implantado por
Samuel que foi o homem, que nacionalizou e centralizou o governo ungido Saul a
rei de todo Israel, com uma ordem direta de Deus (1 Sm 10.1-27). Entretanto,
cabe mencionar que não houve uma eleição como em nossos dias, mas um ato
soberano de Deus. Abro um parêntese para chamar a sua atenção para cada rei
posto em Israel, pois em algum momento da história dessa nação, a dinastia é
quebrada e em outro parece ser mantida. Já no Novo Testamento a religião
existente entre os sacerdotes e o poder civil sofre mudança, uma vez que o
império Romano era o poder dominante, surge então uma organização político-religiosa
denominada Sinédrio. Sua origem remonta, segundo alguns comentaristas, ao tempo
em que o Senhor determinou, entre os homens de Israel, setenta anciões para
auxiliar a Moisés na tarefa de conduzir o povo à terra de Canaã (Nm 11.16-24).
Já outros enfatizam que Esdras teria organizado esse grupo após o exílio (Ed
7.25,26; 10.14); como também é possível que os anciões referidos no livro de
Esdras 5.5,9; 6.7,14; 10.8, juntamente com os líderes (Neemias 2.16; 4.14,19;
5.7; 7.5), compusessem esse grupo de anciões que mais tarde foi reorganizado
formando assim, o sinédrio. Podemos ainda acrescentar que sob o governo de
Júlio Cesar a autoridade do Sinédrio foi estendida sobre toda Judéia, assim, o
governo estava em mãos do Sinédrio, que foi reconhecido até mesmo na diáspora
(At 9.1,2; 22.5,30; 26.10-12). Sua atuação durou até o ano 70 d.C. quando foi
abolido e substituído pelo Tribunal de julgamento (Beith Din). Entretanto, o
Senhor Jesus deixou bem claro em seus ensinamentos, a separação entre a Igreja
e o Estado. Como cidadão, Jesus pagava tributo (Mt 17.24-27), reconhecendo o
dever de todo o cidadão se submeter às autoridades, como cumpridor de suas
obrigações cívicas. Deste modo ensinou, que devemos ter o devido respeito aos
poderes constituídos. Os membros da Igreja de Cristo possuem dupla
nacionalidade. A primeira nacionalidade é a terrena, e segunda como cidadão do
céu nascido do espírito. Jesus disse em certa ocasião: “O meu reino não é deste
mundo” (Jo 18.36). A Igreja do Senhor atua simultaneamente, tanto na esfera
espiritual como na terrena, com deveres inalienáveis, tanto para com o Estado,
como para com o Senhor, observando, todavia, a distinção entre o que é de Deus
e o que é do homem (Mt 22.21). A Igreja e o Estado são duas instituições de
maior importância para a vida de uma nação, e com contribuições diferentes uma
da outra. Em relação ao poder temporal, a Nova do Cordeiro não recebeu do
Eterno a autoridade para o governo do mundo, e nem para ceder aos caprichos do
governo, tendo em vista que a missão da Igreja é espiritual. Ela é a luz do
mundo e o sal da Terra, e como tal a sua missão é iluminar é salgar este mundo.
Através da mensagem do Evangelho a Igreja transmite a luz e a verdade ao homem
em pecado, conduzindo ao conhecimento de Cristo. Portanto, ao lançar os
fundamentos da Igreja, o Senhor Jesus foi claro a sua posição quanto ao poder
de Roma, isto é, Ele não veio para impedir Roma ou qualquer outro império. Mas,
chamar os pecadores ao arrependimento, viera revelar o amor, a justiça, a misericórdia
e o perdão de Deus a todas as pessoas (Mt 5.3,11-17.45; 6.6). Quanto ao Estado
temos conhecimento que para ser reconhecido como tal deve ter: um território,
um povo, uma constituição ou lei e uma organização administrativa, ou seja, o
Estado é uma sociedade humana organizada que se submete ao mando e à orientação
de um poder centralizado, com a finalidade de estabelecer o bem próprio de cada
um, ao mesmo tempo em que busca o bem de todos. Prezado leitor, a Igreja
constitui-se de um povo escolhido e tirado do mundo, para obedecer a Deus,
adorá-lo e viver em novidade de vida ( Hb 3.1; 2 Pe 1.3; Jo 15.16), isto é, um
povo separado deste mundo, e consagrado para Deus. E é neste conceito que a
Noiva do Cordeiro funciona, tornando-se aquela contra quais as portas do
inferno não prevalece, porque o seu guardião é Cristo. Assim, aquele que nela
estiver, tornar-se-á forte e vencerá o mundo, a carne e o diabo. Concluímos
este artigo sendo enfático que para governar, instruir, disciplinar e orientar
os homens, a fim de que este saiba fazer bom uso do seu livre arbítrio,
constituída por Deus duas fontes de autoridade, uma religiosa e a outra
política, ou seja, a espiritual, a Igreja e a temporal, o Estado. Ambas em
esferas diferentes como já mencionamos acima, porém, entre elas deve haver
respeito mútuo. Contudo, à Noiva do Cordeiro está reservada a missão de
cooperar com os governantes advertindo-os da responsabilidade que têm de
liderar e governar em consonância com os padrões éticos da Bíblia Sagrada (Pv
11.1-14; Is 10.1,2;Ml 3.5). Que possamos como Igreja de Cristo proceder
sabiamente não trazendo escândalos, mas sempre dando bom testemunho para que o
Nome do Senhor venha ser glorificado. Deus seja louvado!
Josué de Asevedo Soares.
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