Introdução
O evangelho de
Mateus é o primeiro livro na maioria das listagens antigas do Novo Testamento,
apesar de não ser o primeiro em ordem cronológica. Contêm mais de cem citações
do Antigo Testamento.
Escrito para
judeus cristãos. Isto é elucidado através de várias citações do Antigo
Testamento, assim como o uso de termos familiares aos judeus e ênfases em
vários costumes judaicos, supondo-se que os leitores já estivam familiarizados.
Uma segunda
teoria, menos provável, afirma que este evangelho tenha sido escrito para
líderes da Igreja (Donald Guthire). Esta teoria reporta-se ao fato dos manuscritos
encontrados em Qumram. Pois há o comentário de Habacuque que foi elaborado para
instruir aos líderes religiosos da época. Ou seja, assim como o comentário de
Habacuque foi escrito para instrução dos líderes religiosos, os defensores
desta teoria afirmam que Mateus foi escrito com o mesmo propósito.
Este evangelho é o mais citado pelos antigos pais. É
considerado o elo entre o Antigo e Novo Testamento. R. V. G. Tasker afirma que
Mateus é a mais recente apologia cristã
(early Christian apology).
Autoria
O evangelho
traz o nome do evangelista Mateus, que significa “dom de Deus”. Desde os tempos
mais antigos, os pais da igreja já confirmavam a autoria de Mateus. Eusébio
cita Clemente (101 DC) falando de Mateus como o autor do evangelho. Papias (130 DC) e Inácio (115 DC) citam Mateus como
autor.
Lucas e Marcos
citam mais especificamente como se deu a sua chamada (Lc 5.27–32; Mc 2.13-17)
enquanto Mateus não cita que deixou tudo para seguir o Mestre (9.9–13), o que
pode configurar em uma evidência interna, assim como expressão de sua
humildade. Mas quem era Mateus?
Mateus é
chamado de Levi (Leuin - Levin) no evangelho de
Marcos (2.14) e em Lucas (5.27). Levi pode ter sido o seu nome ou também
significar que ele era levita. Isto não se sabe ao certo, pois a palavra grega
permite ambas as traduções: “levita” ou “Levi”. Caso ele fosse levita, geraria maior ódio
aos judeus pelo fato de ser publicano, trabalhando para os romanos.
A Bíblia diz
que Mateus era cobrador de impostos (Lc 5.27). Roma, capital do Império Romano,
impunha às suas províncias pesados impostos. Estes impostos eram de dois tipos:
Tributos e Vectigalia.
Os Tributos se
dividiam em duas classes: Tributum Agri (sobre os produtos e propriedades) e
Tributum Capitis (cobrado a cada pessoa; aparecendo em 22.15-22).
Os Vectigalia
eram cobrados por Publicanos. Os Publicanos formavam uma classe que tinham um
diretor (Magister Societatis), um vice-diretor (Pro Magistro), alguns
empregados subordinados ao vice-diretor (os Submagistri) que coordenavam os
impostos das províncias, e subordinados a eles estavam os portitores (no grego: qelonthV - telontes). Estes últimos faziam a
coleta fiscal e tinham o contato com o povo.
Magister Societatis
Pro
Magistro PUBLICANOS
Sub
Magistri
Portitores (Mateus) Faziam
a Coleta Fiscal
Dentre os
Vectigalia há o portorium que é o imposto sobre o trânsito de mercadorias. Este
imposto corresponde a três encontrados nos dias atuais: alfandegário (fronteira
de estados), consumo (fronteira de cidades), pedágio (nas estradas). O termo
bíblico que é traduzido (erroneamente) por publicano refere-se aos cobradores
do portorim, que são os portitores. Mateus era dos portitores. Tinha contato
com o povo. Era um subalterno que era odiado pelo povo.
Israel
discriminava estes cobradores de impostos, pois estavam a serviço de Roma.
Mateus é chamado de Publicano (10.3), mas na verdade ele pertence à classe mais
baixa dos publicanos. Eles eram associados a pecadores (9.10-13), meretrizes
(21.31-32) e pagãos (18.15-17).
Suetônio
cita o absurdo dos impostos do Império Romano falando do Imperador Vespasiano. Este chegou ao extremo de cobrar
dos tintureiros impostos sobre a urina que era aproveitada para tingir
determinados tipos de roupas.
Certamente Mateus
o que tinha mais posses, estudos e até idiomas diferentes pois lidava com
diversos tipos de pessoas. É o único que cita as parábolas da pedra de grande
valor e tesouro escondido (13.44-46).
Sua conversão
é refletida em sua humildade na auto-citação de publicano (10.3) o que Marcos
não faz na listagem dos doze (Mc 3.13-21). Além disso, Mateus não cita que
deixou tudo para seguir a Jesus (9.9-10) o que Lucas (5.27- 29) cita.
Clemente e
Heracleon afirmam que Mateus morreu naturalmente, o que não é unanimidade entre
historiadores.
Local de escrita, Data e
Objetivo
Sobre o local
de escrita, algumas são as possibilidades: Antioquia (defendida por B. H.
Streeter e a mais plausível) Fenícia (Kilpatrick), Jerusalém (Donald Guthre),
Alexandria (Brandon).
Sobre a data
de escrita, a mais provável é entre 65-75 DC. Outros afirmam ter sido entre
80-100 DC pelo fato de, entre os evangelistas, ele ser o único a usar o termo ekklesia (ekklesia) para igreja (o que o faz duas
vezes). Todavia, a menção do termo ekklesia, não deve ser levado em conta no
fato da datação do evangelho, pois esta palavra já era bastante conhecida
naquilo que diz respeito a uma reunião, ou ajuntamento. O mais provável, então,
é uma data entre 65-75 DC.
O Objetivo
principal de Mateus é o anúncio do Reino de Deus
(Basileia tou qeou). Para isso
ele se vale de quatro propósitos: Litúrgico (enfatizando o serviço ao Rei),
Kerygmático (enfatizando a proclamação: “é chegado o Reino dos céus”), Didático
(enfatizando o ensino de Jesus, a lei do amor) e Apologético (defendendo a
nascente fé cristã).
Características gerais
Estudiosos do
evangelho de Mateus vêem uma divisão natural do evangelho de Mateus em cinco discursos:
1o Discurso –
5:1 – 7:29 - Significado da
Verdadeira Retidão
2o Discurso –
9:35 – 11:1 - Significado do
testemunho de Cristo
3o Discurso –
13:1 – 13:53 - Significado do Reino
4o Discurso –
18:1 – 19:1 - Significado da
humildade e do perdão
5o Discurso –
23:1 – 26:1 - Significado da
rejeição de Israel
Cada um dos
discursos, contém em suas finalizações, uma palavra conclusiva explícita:
1o–‘E
aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, ...’ – 7:28
2o–‘E
aconteceu que, acabando Jesus de dar instruções,
...’ – 11:1
3o
– ‘E aconteceu que, concluindo Jesus estas parábolas, ...’ – 13:53
4o
– ‘E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos, ...’ – 19:1
5o
– ‘E aconteceu que, concluindo Jesus todos estes discursos, ...’ – 26:1
A cada discurso sempre se seguem narrativas sobre fatos
concernentes à vida de Cristo (1:1-4:25;
8:1-9:34; 11:2-12:50; 13:54-17:27; 19:2-22:46; 26:2-28:20).
Vários esboços podem ser feitos
dentro deste evangelho. Todavia, um esboço mais preciso certamente levará em
conta a temática principal do Reino. Esboçando o livro, unindo as narrativas e
os discursos, poderíamos seguir o esboço de Hale:
I – O Reino – sua natureza e características – 1:1 – 7:28
1.
Narrativa – 4:12 –25
2.
Discurso – O Sermão da montanha – 5:1 – 7:28
II – A Apresentação e propagação do Reino – 8:1 – 11:1
1.
Narrativa – 8:1 – 9:34
2.
Discurso – Missões – 9:35 – 11:1
III. A inauguração do Reino – 11:2 – 13:53
1.
Narrativa – 11:2 – 12:50
2.
Discurso – As parábolas acerca do Reino – 13:1 – 53
IV. A Relação de Jesus para com o Reino - 13:54 – 19:1
1.
Narrativa – 13:54 – 17:21
2.
Discurso – O Espírito interno do Reino – 17:22 – 19:1
V. A última apresentação formal do Reino à nação judaica – 19:2 – 28:20
1.
Narrativa – 19:2 – 23:39
2.
Discurso – 24:1 – 26:1
3.
Narrativa – 26:2 – 28:20
Algumas outras
características presentes neste evangelho demonstram o interesse de Mateus
pelos judeus: A substituição do nome de Deus nas expressões ‘Pai que estás nos
céus’ (quinze vezes) e ‘Reino dos céus’; Interesse escatológico tipicamente
judaico; Jesus sendo referido como Filho de Davi (sete vezes).
Não devemos
deixar também de destacar que, apesar do evangelho de Mateus ser um evangelho cristão judaico ele também tem
uma perspectiva universal. Mateus cita a Grande comissão (28:19 –20); fala de
Sábios que adoram ao Messias (2:1-2); Insere a profecia de Jesus citando muitos
que ‘virão do ocidente e do oriente’
(8:11-12); Afirma que o Campo é o mundo (13:38) e; mostra a Igreja como
o Novo Israel (21:33 – 43).
Para fins didáticos, separaremos o assunto
principal de cada capítulo e o proporemos como tema, repartindo,
subsequentemente, a temática principal em outros subtemas, como se segue.
O Reino de Deus
I – O Reino – sua natureza e
características – 1:1 – 7:28
II – A Apresentação e
propagação do Reino – 8:1 – 11:1
III. A inauguração do Reino –
11:2 – 13:53
IV. A Relação de Jesus para com o Reino
- 13:54 – 19:1
V. A última apresentação
formal do Reino à nação judaica – 19:2 – 26:20
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