quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O EVANGELHO DE MATEUS

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Introdução
O evangelho de Mateus é o primeiro livro na maioria das listagens antigas do Novo Testamento, apesar de não ser o primeiro em ordem cronológica. Contêm mais de cem citações do Antigo Testamento.
Escrito para judeus cristãos. Isto é elucidado através de várias citações do Antigo Testamento, assim como o uso de termos familiares aos judeus e ênfases em vários costumes judaicos, supondo-se que os leitores já estivam familiarizados.
Uma segunda teoria, menos provável, afirma que este evangelho tenha sido escrito para líderes da Igreja (Donald Guthire). Esta teoria reporta-se ao fato dos manuscritos encontrados em Qumram. Pois há o comentário de Habacuque que foi elaborado para instruir aos líderes religiosos da época. Ou seja, assim como o comentário de Habacuque foi escrito para instrução dos líderes religiosos, os defensores desta teoria afirmam que Mateus foi escrito com o mesmo propósito.
            Este evangelho é o mais citado pelos antigos pais. É considerado o elo entre o Antigo e Novo Testamento. R. V. G. Tasker afirma que Mateus é  a mais recente apologia cristã (early Christian apology).
  
Autoria
O evangelho traz o nome do evangelista Mateus, que significa “dom de Deus”. Desde os tempos mais antigos, os pais da igreja já confirmavam a autoria de Mateus. Eusébio cita Clemente (101 DC) falando de Mateus como o autor do evangelho. Papias  (130 DC) e Inácio (115 DC) citam Mateus como autor.
Lucas e Marcos citam mais especificamente como se deu a sua chamada (Lc 5.27–32; Mc 2.13-17) enquanto Mateus não cita que deixou tudo para seguir o Mestre (9.9–13), o que pode configurar em uma evidência interna, assim como expressão de sua humildade. Mas quem era Mateus?
Mateus é chamado de Levi  (Leuin - Levin) no evangelho de Marcos (2.14) e em Lucas (5.27). Levi pode ter sido o seu nome ou também significar que ele era levita. Isto não se sabe ao certo, pois a palavra grega permite ambas as traduções: “levita” ou “Levi”. Caso ele fosse levita, geraria maior ódio aos judeus pelo fato de ser publicano, trabalhando para os romanos.
A Bíblia diz que Mateus era cobrador de impostos (Lc 5.27). Roma, capital do Império Romano, impunha às suas províncias pesados impostos. Estes impostos eram de dois tipos: Tributos e Vectigalia.
Os Tributos se dividiam em duas classes: Tributum Agri (sobre os produtos e propriedades) e Tributum Capitis (cobrado a cada pessoa; aparecendo em 22.15-22).
Os Vectigalia eram cobrados por Publicanos. Os Publicanos formavam uma classe que tinham um diretor (Magister Societatis), um vice-diretor (Pro Magistro), alguns empregados subordinados ao vice-diretor (os Submagistri) que coordenavam os impostos das províncias, e subordinados a eles estavam os portitores (no grego: qelonthV - telontes). Estes últimos faziam a coleta fiscal e tinham o contato com o povo.


Magister Societatis
                               Pro Magistro                                                        PUBLICANOS
                               Sub Magistri                                                          
                               Portitores   (Mateus)                                          Faziam a Coleta Fiscal

Dentre os Vectigalia há o portorium que é o imposto sobre o trânsito de mercadorias. Este imposto corresponde a três encontrados nos dias atuais: alfandegário (fronteira de estados), consumo (fronteira de cidades), pedágio (nas estradas). O termo bíblico que é traduzido (erroneamente) por publicano refere-se aos cobradores do portorim, que são os portitores. Mateus era dos portitores. Tinha contato com o povo. Era um subalterno que era odiado pelo povo.
Israel discriminava estes cobradores de impostos, pois estavam a serviço de Roma. Mateus é chamado de Publicano (10.3), mas na verdade ele pertence à classe mais baixa dos publicanos. Eles eram associados a pecadores (9.10-13), meretrizes (21.31-32) e pagãos (18.15-17).
            Suetônio cita o absurdo dos impostos do Império Romano falando do Imperador  Vespasiano. Este chegou ao extremo de cobrar dos tintureiros impostos sobre a urina que era aproveitada para tingir determinados tipos de roupas.
Certamente Mateus o que tinha mais posses, estudos e até idiomas diferentes pois lidava com diversos tipos de pessoas. É o único que cita as parábolas da pedra de grande valor e tesouro escondido (13.44-46).
Sua conversão é refletida em sua humildade na auto-citação de publicano (10.3) o que Marcos não faz na listagem dos doze (Mc 3.13-21). Além disso, Mateus não cita que deixou tudo para seguir a Jesus (9.9-10) o que Lucas (5.27- 29) cita.
Clemente e Heracleon afirmam que Mateus morreu naturalmente, o que não é unanimidade entre historiadores.

Local de escrita, Data e Objetivo
Sobre o local de escrita, algumas são as possibilidades: Antioquia (defendida por B. H. Streeter e a mais plausível) Fenícia (Kilpatrick), Jerusalém (Donald Guthre), Alexandria (Brandon).
Sobre a data de escrita, a mais provável é entre 65-75 DC. Outros afirmam ter sido entre 80-100 DC pelo fato de, entre os evangelistas, ele ser o  único a usar o termo ekklesia  (ekklesia) para igreja (o que o faz duas vezes). Todavia, a menção do termo ekklesia, não deve ser levado em conta no fato da datação do evangelho, pois esta palavra já era bastante conhecida naquilo que diz respeito a uma reunião, ou ajuntamento. O mais provável, então, é uma data entre 65-75 DC.
O Objetivo principal de Mateus é o anúncio do Reino de Deus (Basileia tou qeou). Para isso ele se vale de quatro propósitos: Litúrgico (enfatizando o serviço ao Rei), Kerygmático (enfatizando a proclamação: “é chegado o Reino dos céus”), Didático (enfatizando o ensino de Jesus, a lei do amor) e Apologético (defendendo a nascente fé cristã).

Características gerais

Estudiosos do evangelho de Mateus vêem uma divisão natural do evangelho de Mateus em cinco discursos:
1o Discurso – 5:1 – 7:29           - Significado da Verdadeira Retidão
2o Discurso – 9:35 – 11:1         - Significado do testemunho de Cristo
3o Discurso – 13:1 – 13:53       - Significado do Reino
4o Discurso – 18:1 – 19:1         - Significado da humildade e do perdão
5o Discurso – 23:1 – 26:1         - Significado da rejeição de Israel



Cada um dos discursos, contém em suas finalizações, uma palavra conclusiva explícita:
1o–‘E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, ...’ – 7:28
2o–‘E aconteceu  que, acabando Jesus de dar instruções, ...’ – 11:1
3o – ‘E aconteceu que, concluindo Jesus estas parábolas, ...’ – 13:53
4o – ‘E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos, ...’ – 19:1
5o – ‘E aconteceu que, concluindo Jesus todos estes discursos, ...’ – 26:1

A cada discurso sempre se seguem narrativas sobre fatos concernentes  à vida de Cristo (1:1-4:25; 8:1-9:34; 11:2-12:50; 13:54-17:27; 19:2-22:46; 26:2-28:20).
 Vários esboços podem ser feitos dentro deste evangelho. Todavia, um esboço mais preciso certamente levará em conta a temática principal do Reino. Esboçando o livro, unindo as narrativas e os discursos, poderíamos seguir o esboço de Hale:
I – O Reino – sua natureza e características – 1:1 – 7:28
1.              Narrativa – 4:12 –25
2.              Discurso – O Sermão da montanha – 5:1 – 7:28
II – A Apresentação e propagação do Reino – 8:1 – 11:1
1.              Narrativa – 8:1 – 9:34
2.              Discurso – Missões – 9:35 – 11:1
III.  A inauguração do Reino – 11:2 – 13:53
1.              Narrativa – 11:2 – 12:50
2.              Discurso – As parábolas acerca do Reino – 13:1 – 53
IV. A Relação de Jesus para com o Reino  - 13:54 – 19:1
1.              Narrativa – 13:54 – 17:21
2.              Discurso – O Espírito interno do Reino – 17:22 – 19:1
V. A última apresentação formal do Reino à nação judaica – 19:2 – 28:20
1.              Narrativa – 19:2 – 23:39
2.              Discurso – 24:1 – 26:1
3.        Narrativa – 26:2 – 28:20

Algumas outras características presentes neste evangelho demonstram o interesse de Mateus pelos judeus: A substituição do nome de Deus nas expressões ‘Pai que estás nos céus’ (quinze vezes) e ‘Reino dos céus’; Interesse escatológico tipicamente judaico; Jesus sendo referido como Filho de Davi (sete vezes).
Não devemos deixar também de destacar que, apesar do evangelho de Mateus ser  um evangelho cristão judaico ele também tem uma perspectiva universal. Mateus cita a Grande comissão (28:19 –20); fala de Sábios que adoram ao Messias (2:1-2); Insere a profecia de Jesus citando muitos que ‘virão do ocidente e do oriente’  (8:11-12); Afirma que o Campo é o mundo (13:38) e; mostra a Igreja como o Novo Israel (21:33 – 43).
            Para fins didáticos, separaremos o assunto principal de cada capítulo e o proporemos como tema, repartindo, subsequentemente, a temática principal em outros subtemas, como se segue.

O Reino de Deus

I – O Reino – sua natureza e características – 1:1 – 7:28
II – A Apresentação e propagação do Reino – 8:1 – 11:1
III.  A inauguração do Reino – 11:2 – 13:53
IV. A Relação de Jesus para com o Reino  - 13:54 – 19:1
V. A última apresentação formal do Reino à nação judaica – 19:2 – 26:20

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