A Bíblia é composta de quatro evangelhos: Mateus, Marcos,
Lucas e João. Os três primeiros têm conteúdos muito semelhantes entre si. O
último (João) tem frases e versos semelhantes, mas não em tão grande número
como os três citados anteriormente. Quando é efetuado o estudo dos evangelhos,
entende-se que aquele que procura ‘ver junto’ os três primeiros evangelhos
empreenderá um estudo mais profícuo e proveitoso. Daí o nome ‘sinótico’.
Esta palavra
vem da junção de dois termos gregos:
sun (sin), que significa “junto com”; e opsiV (opsis)
que significa “ver”. J. J. Griesbach (em
1776) elaborou este termo. Ele colocou os evangelhos em três fileiras,
uma ao lado da outra, para “vê-los juntos”.
Cerca de 95% do conteúdo do
evangelho de Marcos é encontrado em Mateus e Lucas. Em alguns textos inteiros
são encontrados iguais. Mas será que estes autores tiraram suas informações de
uma mesma fonte? Todos eles escreveram na mesma época? Cada um deles sabia que
o outro tinha escrito um evangelho? Para estas perguntas existem algumas
respostas propostas, dentre as quais existem as teorias dos documentos. São
três as teorias principais concernentes às similaridades encontradas nos
sinóticos:
a) Teoria do não-documento
- afirma que não existiu nenhum documento que fosse comum aos três autores, mas
cada um escreveu seu evangelho completamente independente de qualquer outro
documento de outro autor.
b) Teoria do documento
único - afirma haver um documento principal do qual os autores tenham
feito uso. Este documento era comum aos autores. Eles teriam feito uso apenas
deste documento e de mais nenhum outro.
c) Teoria dos documentos múltiplos - afirma existirem
diversos documentos que foram consultados pelos autores dos evangelhos. Esta
teoria Afirma que existiram três fontes documentais principais: Q, L e M.
L seriam
documentos que foram consultados por Lucas mas não foram consultados por Mateus
ou Marcos. Nesta fonte estariam os textos que existem somente em Lucas como
Zacarias e Isabel (1.5-80), os pastores (2.8-20), a apresentação de Jesus no
templo (2.22-24), Simeão e Ana (2.25-38), Jesus no meio dos doutores (2.41-52),
pregação e expulsão de Jesus de Nazaré (4.16-30), a pesca milagrosa (5:4-9),
Jesus em Naim (7.11-16), parábolas diversas (7.36-48; 10.25-37; 11.5-13;
12.16-20; 12.36-38, 42-48; 13.6-9), viagens na Galiléia (8.1-3), os samaritanos
não recebem Jesus (9:51-56), o regresso dos setenta (10.17-24), Marta e Maria
(10.38-42), condenação de Jesus aos fariseus (11.37-42), grande parte do
ministério na Peréia (13.10-18.14; 19.2-27), sua aparição a Pedro (24.34), e
aos discípulos estando Tomé ausente (24.36-48).
M seriam documentos consultados por Mateus, mas não
consultados por Marcos ou Lucas. Nesta fonte estariam os textos que aparecem
somente em Mateus como a aparecimento do anjo a José (1.18-25), visita dos
sábios (2.1-12), fuga para o Egito (2.13-15), cura de dois cegos e um mudo
(9.27-34), condenação das cidades (11.20-24), parábolas do trigo, joio, tesouro
escondido, pérola de grande valor e rede (13.24-30, 36-51), alguns milagres
(15.29-31), questão do tributo (17.24-27), parábola dos obreiros da vinha
(20.1-16), curas no templo (21.14), parábola dos dois filhos (21.28-32), das
bodas (22.1-14), das dez virgens e dos talentos (25.14-46), o apelo da esposa
de Pilatos e a lavagem de
mãos (27.19, 24), o suicídio de Judas (27.3-10), o terremoto (28.2-4),
aparecimento de Jesus a outras mulheres (28.8-10), o informe dos guardas
(28.11-15).
Q seria a
fonte consultada por Mateus e por Lucas, mas não consultada por Marcos. Recebe
esta letra (Q) por ser proveniente da palavra alemã “Quelle” que
significa ‘fonte’. Os textos que fazem parte desta fonte são cerca de 250
versículos que existem em comum em Mateus e Lucas e não existem em Marcos.
Aceita-se quase universalmente que Marcos é o mais antigo
dos sinóticos. Ele teria como fontes principais Pedro (1Pe 5.13), Paulo (1Tm
4.11), por ter sido seu companheiro em algumas viagens e teria contato com
outros apóstolos em Roma, junto com Pedro. Papias, em 140 DC afirma que Marcos
estava intrinsecamente ligado com Pedro. O que é citado também por Irineu,
Clemente, Orígenes e Jerônimo.
Abaixo
segue um gráfico explicativo da teoria dos documentos múltiplos:
Fonte
M
---------------------------- Mateus
Pedro, Paulo e demais apóstolos -- Marcos Fonte
Quelle
Fonte
L -------------------- Lucas
Outras
fontes informativos sobre a vida de Jesus e sobre informações
histórico-culturais daquele período também são encontradas.
O primeiro historiador que fala de Jesus é Flávio
Josefo, um escritor nascido na Palestina pouco depois da morte de Cristo e que
pôde obter informações de primeira mão de testemunhas oculares. A vida deste escritor transcorreu entre os anos
37 a 97 da nossa era. No ano 93 ele escrevia aos seus amigos de Roma um livro
de informações históricas sobre o judaísmo, com o título Antiguidades Judaicas,
em cujas páginas encontramos notícias sobre Jesus de Nazaré, paralelas às dos
evangelhos.
Cristo é
definido por Flávio Josefo como um homem sábio, líder das massas, operador de
prodígios, Messias. Condenado ao suplício da morte por Pôncio Pilatos, ele
ressuscitou ao terceiro dia, como tinham anunciado os profetas. A comunidade
dos que acreditavam nele, espalhada já em várias partes do império, foi chamada,
com o seu nome, cristã.
Uns vinte anos depois do escrito de Josefo, um
outro historiador romano nos fala de Cristo: Públio Cornélio Tácito que
escreveu Os Anais de Roma, mais ou menos pelo ano 116 DC. Tácito fala de Jesus
por ocasião da primeira perseguição iniciada por Nero contra os cristãos,
falsamente acusados de autores do incêndio de Roma do ano 64 DC.
Pouco
depois, um outro historiador, Caio Tranquilo Suetônio (69-130 DC), escreveu a
sua obra denominada A Vida dos Imperadores. Lucas lembra do edito que Cláudio
lançou (At 18.2) expulsando os cristãos de Roma. Algo sobre este edito se
encontra na obra de Suetônio.
Plínio,
o jovem, é outro que fala sobre Cristo.
Ele escreveu uma carta a Trajano entre 111 – 113 DC. Plínio era
governador da Bitínia, uma colônia romana nas costas norte-ocidentais da Ásia
Menor.
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