sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

EVANGELHO DE JOÃO




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Autoria: João, o discípulo amado, filho de Zebedeu (1:24-25)
Outras Possibilidades:João, ancião; João Marcos; Lázaro.
Data: 90 dC (Kümmel)
Local: Éfeso, Alexandria (Filo), Antioquia (Odes de Salomão), Palestina (detalhes).
Propósito: Mostrar que Jesus Cristo é o Filho de Deus – 20:31.
           
Introdução:
O vocabulário básico de Jesus como registrado por João é diferente do registrado pelos sinóticos. As palavras vida eterna, luz e trevas, amar, amor, verdade, verdadeiro e genuíno, conhecer, trabalhar, mundo julgar, permanecer, enviar, testemunhar, crer, aparecem repetidamente em João
            O autor escreve a partir de uma herança judaica. Há quatorze referências ao Antigo Testamento em João (1:23, 2:17, 6:31, 6:45, 7:38, 7:42, 10:34, 12:13, 12:38, 13:18, 15:25, 19:24, 19:28, 19:36). Em João, Jesus devotou quase seu ministério inteiro em Jerusalém, onde o centro religioso estava localizado.
            Desde as descobertas dos rolos de Qumran, na área do Mar Morto, o conhecimento a respeito do Judaísmo sectário foi grandemente ampliado. A literatura sobrevivente da comunidade monástica dos essênios revela alguns paralelos com o pensamento joanino. Através destes rolos percebe-se que muitos dos ensinamentos de João e de seus conceitos eram conhecidos e comumente aceitos pelos judeus palestinos durante o ministério ativo de Jesus.
            O Gnosticismo grassante da época também pode ser encontrado sendo combatido no evangelho joanino. A maior parte da literatura gnóstica da época é preservada no Mandaísmo. A grande preocupação de João parece ser a de corrigir a ênfase gnóstica em desenvolvimento, sobre as coisas concernentes ao outro mundo, demonstrando o papel do logos na criação e na salvação, esta sendo feita através da encarnação do logos no Jesus histórico. O conhecimento de Deus não leva a uma fuga do mundo (17:5), mas a uma vida de serviço no mundo (13:1-20). Os elementos essenciais desta teologia gnóstica consiste de um dualismo cosmológico em que o mundo material é mau. As almas dos homens, que pertencem ao reino celestial da luz e vida, caíram no mundo material das trevas e morte. Deus enviou um redentor celestial aos homens, para ilumina-los, outorgando-lhes conhecimento (gnosis) da sua verdadeira natureza, assim habilitando-os, por ocasião da morte, a escaparem de seu envolvimento no mundo material e retornarem ao seu verdadeiro lar celestial. O céu é o lar natural do homem; o mundo é uma prisão. Salvação resulta do conhecimento conferido pela descida e ascensão do remidor celestial.

Esboço:
I.                   Prólogo – 1.1-18
II.                Sinais – 1.19-20.31
III.             Epílogo – 21.1-25

Conteúdo:

I.  PRÓLOGO – 1.1-18
a)      O Logos em Sua existência eterna e absoluta – 1.1
b)      O Logos em relação a criação – 1.2-18

II. O LIVRO DOS SINAIS – 1.19-20.31
a)      Primeiro Sinal: Água em Vinho – Jesus cumpre o velho e dá o novo – 1.19-36
1-      O testemunho de João – 1.19-34
2-      O testemunho dos discípulos – 1.35-51
3-      O testemunho do Sinal – 2.1-3.36
b)      Segundo Sinal – A Cura do Filho Régulo – Jesus não é limitado – 4.1-54
c)      Terceiro Sinal – A Cura do Homem Paralítico – Unidade do Ser – 5.1-47
d)     Quarto Sinal – Alimentação das multidões – Salvador, Sustentador e Protetor – 6.1-71
e)      Quinto Sinal – A cura do cego – Jesus é a luz do mundo – 7.1-10.42
f)       Sexto Sinal – Ressureição de Lázaro – Jesus é a ressureição – 11.1-12.50
g)      Sétimo Sinal – Morte, sepultamento e ressureição – Emanuel – 13.1- 20.31

III. EPÍLOGO – 21.1-25
a)      O Senhor e o corpo de discípulos – 21.1-14
b)      O Senhor e os discípulos como indivíduos – 21.15-23
c)      Observações conclusivas – 21.24-25

Teologia

            Em João encontramos vários dualismos. Encontramos um contraste entre dois mundos: o mundo superior e o mundo inferior (8.23). Este mundo de baixo é visto como tendo no diabo o seu governante (16.11). Jesus veio para ser a luz deste mundo (11.9). Um outro contraste neste dualismo é o uso que se faz entre a carne e o espírito. A carne pertence ao reino de baixo e o espírito ao reino de cima. A carne não é pecaminosa, como em Paulo, mas representa a fraqueza e impotência do reino inferior. Carne é sinônimo de humanidade, gênero humano. Contudo, a carne limitada do mundo inferior, não pode alcançar o mundo superior (3.6).
            Em relação à Teologia Propriamente Dita, João crê que Deus é espírito (4.24), Invisível (1.18), é verdadeiro (5.20), é amor (3.16). João explicita três objetos do amor de Deus: o Filho (5.17-20), o mundo (3.16) e os crentes (17.23). Deus revela-se aos homens também como o grande Doador (5.26). Revela-se como luz (1Jo 5.1). Ele julga o mundo por meio de Jesus (3.17, 8.15, 9.39).
            Um traço bastante interessante do evangelho é a questão do Egw eimi (“Eu Sou”), que significa “Sou eu mesmo”. É uma fórmula de reconhecimento da divindade de Jesus. São 26 vezes que Jesus diz “Eu Sou”: uma em Mateus, duas em Marcos, duas em Lucas e 21 em João (4.26, 6.20, 35, 41, 48, 51, 8.12, 24, 28, 58; 10.7, 9, 11, 14, 11.25, 14.6, 15.1). Na LXX é a tradução do ANI YHWH (Ex 3.14), daí sua importância.
            Em sua Cristologia, João fala da natureza de Jesus. Um dos aspectos marcantes em sua Cristologia é a doutrina do Verbo, o logos. Em sua época, o filósofo Filo apresentava o Logos como a razão primeira e fundamental de todas as coisas. Logos é traduzido por diversas expressões: declaração, expressão vocal, pergunta, mandamento, discurso, texto, verbo, palavra, tratado, etc.
            A expressão filho do homem é usada apenas por Jesus. Para designar que o Filho do Homem é a porta dos céus, o lugar da presença da graça de Deus sobre a terra, o tabernáculo de Deus entre os homens (6:51).
            A frase “Filho de Deus” também tem uma significação toda especial no quarto evangelho. Jesus fala de Deus como Pai em João. Ocorre cerca de 30 vezes no quarto evangelho e 21 nas epístolas. A relação de Jesus com o Pai não é apenas moral ou ética, mas é natural e metafísica.
A Hamartiologia joanina também deve ser observada. No evangelho de João o termo “mundo” aparece com uma triplica conotação. As vezes significa a “criação em geral” (17.5, 24), outras vezes se refere a “humanidade” toda (3.19, 11.27), outras vezes significa a “esfera do mal” (17.14). De um modo geral temos estas três idéias em um verso apenas (1.10). João fala do pecado como trevas, que são símbolo da ignorância do mal e da morte (3.19-20). O homem foi criado para a luz, porém o pecado tira-o da luz e o imerge nas trevas. O pecado é, portanto, o eclipse total da alma, o completo desvio da humanidade dos eternos planos e propósitos de Deus. O pecado obscurece tudo. O pecado é anormal na vida do homem original. É uma desarmonia para um mundo completamente feito em harmonia. João também contrasta a carne com o espírito. Não há, nos escritos de João, uma definição formal de pecado, ele é, entretanto, considerado como sendo o grande escravizador da humanidade (8.34). O pecado é mais do que simplesmente a soma de atos pecaminosos. Para João há pecado e há pecados. Pecados são os frutos do pecado. O estado pecaminoso da alma é que nos leva a pecar, por isso é necessário nascer de novo (3.7). O pecado é universal (3.16-17). Nada se fala no evangelho de João a respeito de pessoas endemoninhadas, a não ser na passagem em que Jesus é acusado por seus inimigos de estar ligado aos demônios (8.48, 52). O mesmo não acontece com relação a Satanás. A realidade e o poder do diabo são perfeitamente reconhecidos nos escritos de João. Encontramos o termo diabo, em uso geral. Foi aplicado a Judas (13.27). O diabo também é chamado de príncipe deste mundo (12.31). O diabo é chamado de primeiro homicida (8.38-44). João também encara o pecado como algo voluntário (3.19).
            João também desenvolve uma singular pneumatologia. Seus ensinamentos principais sobre o assunto encontram-se nos capítulos 14, 15 e 16. João utiliza dois termos para o Espírito Santo: Consolador (14.16, 26) e Espírito da Verdade (14.17, 16.13). João considera o Espírito como uma Pessoa (14.18, 14.26, 15.26, 16.13). João também abarca a missão do Espírito em um tríplice aspecto: com relação ao trabalho de Cristo, com relação aos crentes e com relação ao mundo. Com relação a Cristo o trabalho está em relembrar aos crentes sobre tudo o que Jesus havia ensinado (14.26). Com relação aos crentes Sua obra está em fortalecer a fé deles (16.13). Com relação ao mundo seu trabalho é convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo (16.8-11).
            A soteriologia joanina mostra Jesus como o doador da vida e a verdadeira vida (5.19, 14.6). Ele é o Pão da Vida (6.35). Vemos no evangelho João demonstrando que: o homem é pecador e precisa crer em Cristo Jesus para ser salvo (3.17-21, 10.9). Esta crença em Jesus ocorre por meio da fé. A natureza da salvação é explicitada em João quando ele fala do novo nascimento. Assim como o ser humano nasce uma vez do ventre materno, assim é necessário nascer do Espírito Santo de Deus (1.13, 3.3-8). Para João, aquele que é nascido de Deus não encontra mais gosto no pecado. Ele não vive pecando (1Jo 3.9). Somos como crianças, aprendendo de Deus. João utiliza tekna, “crianças”, quando fala da relação do crente como Deus, enquanto quando fala de Jesus ele utiliza o uiós, o “filho”. A natureza da vida cristã é a relação entre Pai e Filho. A natureza desta nova vida também é manifesta em frases como: “permanecer em Cristo”, “estar em Cristo”, “comunhão com Cristo” (1Jo 2.5-6, 2.24, 27, 28, 3.24, 4.13). Aquele que crer em Cristo receberá a vida eterna (5.24, 6.40).
            João vê a ressurreição como um fato que haverá de ser consumado (6.38, 40, 44, 54). Futuramente haverá também um juízo final (12.47-48). João vê o futuro implicitamente no presente. A vida eterna começa aqui. A ressurreição, tanto da vida, como da condenação, começa aqui. Ela é o resultado do nosso modo de viver. O futuro juízo é apenas a última crise no processo de julgar.
                                                                                           
 



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