Autoria: João, o discípulo amado,
filho de Zebedeu (1:24-25)
Outras Possibilidades:João,
ancião; João Marcos; Lázaro.
Data: 90 dC (Kümmel)
Local: Éfeso, Alexandria (Filo),
Antioquia (Odes de Salomão), Palestina (detalhes).
Propósito: Mostrar que Jesus
Cristo é o Filho de Deus – 20:31.
Introdução:
O vocabulário
básico de Jesus como registrado por João é diferente do registrado pelos sinóticos.
As palavras vida eterna, luz e trevas, amar, amor, verdade, verdadeiro e
genuíno, conhecer, trabalhar, mundo julgar, permanecer, enviar, testemunhar,
crer, aparecem repetidamente em João
O
autor escreve a partir de uma herança judaica. Há quatorze referências ao
Antigo Testamento em João (1:23, 2:17, 6:31, 6:45, 7:38, 7:42, 10:34, 12:13,
12:38, 13:18, 15:25, 19:24, 19:28, 19:36). Em João, Jesus devotou quase seu
ministério inteiro em Jerusalém, onde o centro religioso estava localizado.
Desde
as descobertas dos rolos de Qumran, na área do Mar Morto, o conhecimento a
respeito do Judaísmo sectário foi grandemente ampliado. A literatura
sobrevivente da comunidade monástica dos essênios revela alguns paralelos com o
pensamento joanino. Através destes rolos percebe-se que muitos dos ensinamentos
de João e de seus conceitos eram conhecidos e comumente aceitos pelos judeus
palestinos durante o ministério ativo de Jesus.
O
Gnosticismo grassante da época também pode ser encontrado sendo combatido no
evangelho joanino. A maior parte da literatura gnóstica da época é preservada
no Mandaísmo. A grande preocupação de João parece ser a de corrigir a ênfase
gnóstica em desenvolvimento, sobre as coisas concernentes ao outro mundo,
demonstrando o papel do logos na criação e na salvação, esta sendo feita
através da encarnação do logos no Jesus histórico. O conhecimento de Deus não
leva a uma fuga do mundo (17:5), mas a uma vida de serviço no mundo (13:1-20).
Os elementos essenciais desta teologia gnóstica consiste de um dualismo
cosmológico em que o mundo material é mau. As almas dos homens, que pertencem
ao reino celestial da luz e vida, caíram no mundo material das trevas e morte.
Deus enviou um redentor celestial aos homens, para ilumina-los, outorgando-lhes
conhecimento (gnosis) da sua verdadeira natureza, assim habilitando-os, por
ocasião da morte, a escaparem de seu envolvimento no mundo material e
retornarem ao seu verdadeiro lar celestial. O céu é o lar natural do homem; o
mundo é uma prisão. Salvação resulta do conhecimento conferido pela descida e
ascensão do remidor celestial.
Esboço:
I.
Prólogo – 1.1-18
II.
Sinais – 1.19-20.31
III.
Epílogo – 21.1-25
Conteúdo:
I. PRÓLOGO – 1.1-18
a)
O Logos em Sua existência eterna e absoluta – 1.1
b)
O Logos em relação a criação – 1.2-18
II. O LIVRO DOS SINAIS –
1.19-20.31
a)
Primeiro Sinal: Água em Vinho – Jesus cumpre o velho e
dá o novo – 1.19-36
1-
O testemunho de João – 1.19-34
2-
O testemunho dos discípulos – 1.35-51
3-
O testemunho do Sinal – 2.1-3.36
b)
Segundo Sinal – A Cura do Filho Régulo – Jesus não é
limitado – 4.1-54
c)
Terceiro Sinal – A Cura do Homem Paralítico – Unidade
do Ser – 5.1-47
d)
Quarto Sinal – Alimentação das multidões – Salvador,
Sustentador e Protetor – 6.1-71
e)
Quinto Sinal – A cura do cego – Jesus é a luz do mundo
– 7.1-10.42
f)
Sexto Sinal – Ressureição de Lázaro – Jesus é a
ressureição – 11.1-12.50
g)
Sétimo Sinal – Morte, sepultamento e ressureição –
Emanuel – 13.1- 20.31
III. EPÍLOGO – 21.1-25
a)
O Senhor e o corpo de discípulos – 21.1-14
b)
O Senhor e os discípulos como indivíduos – 21.15-23
c)
Observações conclusivas – 21.24-25
Teologia
Em
João encontramos vários dualismos. Encontramos um contraste entre dois mundos:
o mundo superior e o mundo inferior (8.23). Este mundo de baixo é visto como
tendo no diabo o seu governante (16.11). Jesus veio para ser a luz deste mundo
(11.9). Um outro contraste neste dualismo é o uso que se faz entre a carne e o
espírito. A carne pertence ao reino de baixo e o espírito ao reino de cima. A
carne não é pecaminosa, como em Paulo, mas representa a fraqueza e impotência
do reino inferior. Carne é sinônimo de humanidade, gênero humano. Contudo, a
carne limitada do mundo inferior, não pode alcançar o mundo superior (3.6).
Em
relação à Teologia Propriamente Dita, João crê que Deus é espírito (4.24),
Invisível (1.18), é verdadeiro (5.20), é amor (3.16). João explicita três
objetos do amor de Deus: o Filho (5.17-20), o mundo (3.16) e os crentes
(17.23). Deus revela-se aos homens também como o grande Doador (5.26).
Revela-se como luz (1Jo 5.1). Ele julga o mundo por meio de Jesus (3.17, 8.15,
9.39).
Um
traço bastante interessante do evangelho é a questão do Egw eimi (“Eu
Sou”), que significa “Sou eu mesmo”. É uma fórmula de reconhecimento da
divindade de Jesus. São 26 vezes que Jesus diz “Eu Sou”: uma em Mateus, duas em
Marcos, duas em Lucas e 21 em João (4.26, 6.20, 35, 41, 48, 51, 8.12, 24, 28,
58; 10.7, 9, 11, 14, 11.25, 14.6, 15.1). Na LXX é a tradução do ANI YHWH (Ex
3.14), daí sua importância.
Em
sua Cristologia, João fala da natureza de Jesus. Um dos aspectos marcantes em
sua Cristologia é a doutrina do Verbo, o logos. Em sua época, o filósofo Filo
apresentava o Logos como a razão primeira e fundamental de todas as coisas.
Logos é traduzido por diversas expressões: declaração, expressão vocal,
pergunta, mandamento, discurso, texto, verbo, palavra, tratado, etc.
A
expressão filho do homem é usada apenas por Jesus. Para designar que o Filho do
Homem é a porta dos céus, o lugar da presença da graça de Deus sobre a terra, o
tabernáculo de Deus entre os homens (6:51).
A
frase “Filho de Deus” também tem uma significação toda especial no quarto
evangelho. Jesus fala de Deus como Pai em João. Ocorre cerca de 30 vezes no
quarto evangelho e 21 nas epístolas. A relação de Jesus com o Pai não é apenas
moral ou ética, mas é natural e metafísica.
A Hamartiologia joanina também
deve ser observada. No evangelho de João o termo “mundo” aparece com uma
triplica conotação. As vezes significa a “criação em geral” (17.5, 24), outras
vezes se refere a “humanidade” toda (3.19, 11.27), outras vezes significa a
“esfera do mal” (17.14). De um modo geral temos estas três idéias em um verso
apenas (1.10). João fala do pecado como trevas, que são símbolo da ignorância
do mal e da morte (3.19-20). O homem foi criado para a luz, porém o pecado
tira-o da luz e o imerge nas trevas. O pecado é, portanto, o eclipse total da
alma, o completo desvio da humanidade dos eternos planos e propósitos de Deus.
O pecado obscurece tudo. O pecado é anormal na vida do homem original. É uma
desarmonia para um mundo completamente feito em harmonia. João também contrasta
a carne com o espírito. Não há, nos escritos de João, uma definição formal de
pecado, ele é, entretanto, considerado como sendo o grande escravizador da
humanidade (8.34). O pecado é mais do que simplesmente a soma de atos
pecaminosos. Para João há pecado e há pecados. Pecados são os frutos do pecado.
O estado pecaminoso da alma é que nos leva a pecar, por isso é necessário
nascer de novo (3.7). O pecado é universal (3.16-17). Nada se fala no evangelho
de João a respeito de pessoas endemoninhadas, a não ser na passagem em que
Jesus é acusado por seus inimigos de estar ligado aos demônios (8.48, 52). O
mesmo não acontece com relação a Satanás. A realidade e o poder do diabo são
perfeitamente reconhecidos nos escritos de João. Encontramos o termo diabo, em
uso geral. Foi aplicado a Judas (13.27). O diabo também é chamado de príncipe
deste mundo (12.31). O diabo é chamado de primeiro homicida (8.38-44). João
também encara o pecado como algo voluntário (3.19).
João
também desenvolve uma singular pneumatologia. Seus ensinamentos principais
sobre o assunto encontram-se nos capítulos 14, 15 e 16. João utiliza dois
termos para o Espírito Santo: Consolador (14.16, 26) e Espírito da Verdade
(14.17, 16.13). João considera o Espírito como uma Pessoa (14.18, 14.26, 15.26,
16.13). João também abarca a missão do Espírito em um tríplice aspecto: com
relação ao trabalho de Cristo, com relação aos crentes e com relação ao mundo.
Com relação a Cristo o trabalho está em relembrar aos crentes sobre tudo o que
Jesus havia ensinado (14.26). Com relação aos crentes Sua obra está em
fortalecer a fé deles (16.13). Com relação ao mundo seu trabalho é convencê-lo
do pecado, da justiça e do juízo (16.8-11).
A
soteriologia joanina mostra Jesus como o doador da vida e a verdadeira vida
(5.19, 14.6). Ele é o Pão da Vida (6.35). Vemos no evangelho João demonstrando
que: o homem é pecador e precisa crer em Cristo Jesus para ser salvo (3.17-21,
10.9). Esta crença em Jesus ocorre por meio da fé. A natureza da salvação é
explicitada em João quando ele fala do novo nascimento. Assim como o ser humano
nasce uma vez do ventre materno, assim é necessário nascer do Espírito Santo de
Deus (1.13, 3.3-8). Para João, aquele que é nascido de Deus não encontra mais
gosto no pecado. Ele não vive pecando (1Jo 3.9). Somos como crianças,
aprendendo de Deus. João utiliza tekna, “crianças”, quando fala da
relação do crente como Deus, enquanto quando fala de Jesus ele utiliza o uiós,
o “filho”. A natureza da vida cristã é a relação entre Pai e Filho. A natureza
desta nova vida também é manifesta em frases como: “permanecer em Cristo”,
“estar em Cristo”, “comunhão com Cristo” (1Jo 2.5-6, 2.24, 27, 28, 3.24, 4.13).
Aquele que crer em Cristo receberá a vida eterna (5.24, 6.40).
João
vê a ressurreição como um fato que haverá de ser consumado (6.38, 40, 44, 54).
Futuramente haverá também um juízo final (12.47-48). João vê o futuro
implicitamente no presente. A vida eterna começa aqui. A ressurreição, tanto da
vida, como da condenação, começa aqui. Ela é o resultado do nosso modo de
viver. O futuro juízo é apenas a última crise no processo de julgar.
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