“O
Senhor é o que tira a vida e a dar: faz descer à sepultura
e a faz tornar a subir dela” (1 Sm 2.6)
INTRODUÇÃO
Há dados alarmantes
a respeito do suicídio. Está mais do que na hora de considerarmos este assunto
de acordo com a seriedade que ele requer.
Não é
de hoje que o suicídio tem sido um fato que perpassa a realidade de muitas
igrejas locais. São membros, que infelizmente, dão cabo da própria vida.
Outros, são pastores experimentados no ministério, que não suportando o
sofrimento, põem fim a própria existência.
Esse
problema é um drama que tem ligação direta com os transtornos de humor,
manifestados na depressão, no transtorno de ansiedade, nas esquizofrenias,
dentre outros, como revelou uma pesquisa médica recente.
O mais
dramático é que esses transtornos têm tratamento adequado por intermédio de
medicamentos e de terapias profissionais. Ore ao Senhor e peça sabedoria do
alto para que, se for o caso, oriente as pessoas que porventura vivem o
“calabouço” da depressão a procurarem ajuda profissional, paralelo à terapia
espiritual. Tal orientação pode salvar vidas. É importante enfatizar que o início e o término de nossa vida são
prerrogativas exclusivas de Deus. Portanto, o término da vida provocado
pelo homem, sua abordagem pelo crente não deve basear-se em raciocínio,
filosofias, e justificativas puramente humanas, mas na Bíblia no que diz
respeito ao vasto assunto da vida.
A
EXPRESSAO “SUICÍDIO”.
A
expressão “suicídio” vem do Latim sui (a si mesmo) e caedere (matar, cortar) que significa “matar a si
mesmo”, também conhecida como “morte autoinfligida”. Essa prática tem sido um
mal silencioso e o índice de pessoas que se suicidam vem crescendo
assustadoramente. Nesta lição, estudaremos o suicídio nas Escrituras e no
mundo, seus tipos e o posicionamento cristão quanto ao tema.
O
SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDO
Deus é
quem deve ter a última palavra a respeito da vida.
As Escrituras registram seis casos de suicídio: cinco no
Antigo Testamento e um no Novo. Em situação de conflito, homens se desesperam e
tiram a própria vida no mundo todo.
No Antigo Testamento.
A história de Sansão mostra
que a tarefa dele era a de derrotar os filisteus (Jz 13.5). Mas ele revelou o
segredo de sua força e foi preso. Decidido a cumprir sua missão, na
festa a Dagon, derrubou o templo sobre si e seus inimigos (Jz 16.30).
Entretanto, esta ação é vista como sacrifício de guerra e não suicídio. Por
isso, Sansão aparece na lista dos heróis da fé (Hb 11.32-34).
Outro registro é o caso de
Saul e de seu escudeiro. O primeiro rei em Israel rejeitou o Senhor e buscou o
ocultismo (l Sm 28.7). Acuado na peleja contra os filisteus, Saul lançou-se
sobre a própria espada e seu auxiliar fez o mesmo (1Sm 31.4,5). O quarto caso
foi o de Aitofel, conselheiro de Absalão, que não suportou ter o seu conselho
rejeitado e se enforcou (2 Sm 17.23). O quinto registro é o do rei Zinri, que
derrotado e apavorado, tirou a própria vida (l Rs 16.18,19). Exceto Sansão,
tais homens, motivados pelo orgulho, escolheram a morte em lugar de confiarem
em Deus. Aliás, podemos dizer que Sansão morreu em combate.
No Novo Testamento.
O mais
emblemático caso é o suicídio de Judas Iscariotes. Ele fizera parte do
colegiado apostólico (Lc 6.16). Sua função de tesoureiro requeria integridade
(Jo 13.29). No entanto, ele furtava as ofertas que eram lançadas na bolsa (Jo
12,6). Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para entregar Jesus (Mc
14.11). Culpado por trair um inocente, enforcou-se (Mt 27.4,5) e como
resultado: “precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se
derramaram” (At 1.18). Cristo já o tinha alertado, “ai daquele homem por quem o
Filho do Homem é traído!” (Mc 14.21), porém. Judas não resistiu ao Diabo nem
teve a humildade para buscar o perdão do Senhor. Ele preferiu o suicídio a
corrigir o erro. Em nossos dias, a banalização da vida e da fé tem contribuído
para comportamentos similares e consequente queda espiritual de pessoas.
O suicídio no mundo.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS) as mortes por suicídio aumentaram 60% nas últimas cinco
décadas. Quase um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos e cerca
de outros vinte milhões tentam ou pensam em suicídio. Para cada suicídio, cerca
de seis a dez outras pessoas são diretamente afetadas. Na maioria dos países
desenvolvidos, o suicídio é a primeira causa de morte não natural. Desde 2015,
as autoridades iniciaram o movimento “setembro amarelo”, que é estimulado pela
Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP). O movimento
consiste em sinalizar locais públicos com faixas ou símbolos amarelos.
OBS: Lançando a ansiedade sobre
Cristo
“A Bíblia manda lançar
todas as ansiedades sobre o Senhor e não na morte (l 3o 1.7; l Pé 5.7). A
Palavra de Deus nos incentiva a exercitar a fé, colocando sobre Deus os nossos
cuidados, ansiedades e sofrimentos. Diz a Palavra: ‘Verdadeiramente, ele tomou
sobre si as nossas enfermidades e os nossos dores levou sobre si…’ (Is 53.4a – ênfase minha).
Cristo levou nossas dores sobre si. Isso nos dá o conforto e a segurança de
que, pela fé, nossas dores foram Lançadas sobre Ele.” Para conhecer mais leia “Ética Cristã: Confrontando as
Questões Morais do Nosso Tempo”, CPAD, p.145.
TIPOS
DE SUICÍDIOS
Os tipos de suicídio podem
ser classificados em convencional, pessoal e sacrificial. Neste tópico veremos
suas principais implicações.
Suicídio
convencional.
Dá-se o nome de
“convencional” ao suicídio provocado pela tradição cultural ou coerção do grupo
social. Entre os esquimós, por exemplo, é tolerado e esperado o suicídio de
incapacitados e idosos. No Japão a prática dohara-kiri expressava o orgulho do suicida em
escapar de alguma situação intolerável e era visto como um ato de nobreza. Em
maio de 2007, ao ser investigado por corrupção, o Ministro da Agricultura do
Japão sentiu-se extremamente envergonhado e cometeu o suicídio por
enforcamento. Em 2014, a taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por
dia. Especialistas costumam citar a antiga tradição de “suicídio em nome da
honra” para explicar que razões culturais tornaram os japoneses mais propensos
à morte autoinfligida.
Suicídio pessoal.
Praticado por iniciativa
individual, sem a influência de tradição cultural. As motivações para este tipo
de suicídio são variadas e muitas vezes não é possível apontar causas
aparentes. Contudo, o suicídio é considerado uma fuga radical e permanente dos
problemas da vida, tais como dificuldades financeiras, desilusões amorosas,
sentimentos de culpa, depressão, neuroses, desequilíbrios mentais e
espirituais, e outros. Tais pessoas, desprovidas de fé e de esperança, em um
ato de desespero atentam contra a própria vida. Dados oficiais indicam que 32
brasileiros cometem suicídio a cada dia. Esse índice é superior as mortes
causadas pela AIDS e pela maior parte dos tipos de câncer.
“Suicídio”
sacrificial.
Também conhecido como
“morte em prol dos outros”. Trata-se da tentativa altruísta de alguém salvar a
vida alheia em detrimento da sua própria. Neste caso enquadra-se o bombeiro,
que ao entrar no fogo, acaba morrendo como resultado de sua ação ou o salva-vidas
que se afoga ao entrar na água para salvar o outro. Também o profissional ou
voluntário que perde a vida combatendo o crime ou socorrendo as vítimas de
acidentes e de emergências. Nessas circunstâncias, a morte de quem arrisca a
vida em favor do próximo não é suicídio, mas um ato de amor. Cristo disse que
ninguém tem maior amor do que este: “de dar alguém a sua vida pelos seus
amigos” (Jo 15.13). O próprio Senhor entregou a vida dEle por nós por meio de
um sacrifício amoroso (Jo 10.15).
O suicídio de Abimeleque.
A história de Abimeleque,
que viveu nos inícios do século XIII a.C, ilustra muito bem a natureza
ilusória, egoísta e perversa do suicídio. Filho bastardo de Gideão, insurge-se
logo após a morte do pai. Já em Ofra, com a ajuda de uns homens levianos e
maus, mata traiçoeiramente seus irmãos (Jz 9.5). O único a escapar foi Jotão
que, para denunciar o cruel assassino, profere um lindíssimo apólogo. Em
seguida, Abimeleque sai a arrebanhar os israelitas, a fim de fazer-se rei
daquelas terras. Não demorou muito e, agora, erguia-se como um dos maiores
vilões das crónicas hebreias.
Apesar de alguns sucessos
iniciais, seus empreendimentos começam a malograr. Pouco a pouco, vai perdendo
o apoio do povo que, alertado pela fábula de Jotão, revolta-se e expõe-lhe a
tirania. Assim, vê-se obrigado a travar algumas batalhas desgastantes e
renhidas que, dia a dia, vão desprotegendo-o. Ao sitiar a cidade de Tebes, que
ficava na região de Manassés, ‘certa mulher lançou uma pedra superior de moinho
sobre a cabeça de Abimeleque e lhe quebrou o crânio (Jz 9.53). Gravemente
ferido, mas ainda orgulhoso e soberbo, ordena ao escudeiro: Desembainha a tua
espada e mata-me, para que não se diga de mim: Mulher o matou’, O seu
companheiro de guerra não lhe questiona a ordem nem levanta questão ética
alguma. Antes, o moço o atravessou, e ele morreu’ (Jz 9.54). Com sua morte, a
nação de Israel é novamente pacificada.
Na conclusão da história,
somos obrigados a perguntar: Por que Abimeleque requereu a eutanásia [ou
suicídio]?
O motivo ele mesmo o
declara: ‘Para que não se diga: Mulher o matou’. Ele não procurou fugir à dor,
mas escapar à vergonha. Não matara ele tanto homens? Por que morrer, agora, às
mãos de uma mulher? Portanto, a morte ser-lhe-ia boa e até suave não por que o
livraria da dor, mas por que o libertaria da ignomínia. Parte dos que defendem
a eutanásia não temem propriamente os desconfortes e as aflições de uma morte
lenta e excruciante; o que mais os assusta é depender dos que, até então, deles
dependiam (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã, 1.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.114,15).
O
POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO
A posição teológica e a ética do
cristão são desfavoráveis à prática do suicídio por afrontar a soberania
divina.
O
posicionamento teológico.
O cristão se posiciona
contra o suicídio fundamentado no sexto mandamento do Decálogo: “Não matarás”
(Êx 20.13). O princípio que proíbe o homem de assassinar o outro, também o
proíbe de “assassinar” a si mesmo. A vida humana é uma dádiva divina e, portanto,
pertence a Deus (SI 100.3). O Criador é quem determina o início e o término da
vida, não a criatura (Ec 3.2). É Deus quem estabelece quando e como a vida deve
cessar, seja por doença, velhice ou acidente. Por conseguinte, o fim da vida
está sob a presciência e soberania divina.
O
posicionamento ético.
A posição da Ética Cristã é
contrária ao suicídio pelos seguintes e principais motivos:
a) o
suicídio implica banalizar a vida e afrontar a soberania divina; b) o suicida
viola o mandamento de amar “o próximo como a si mesmo”;
c) o
suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento sem se
importar com os outros;
d)
suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança em Deus;
e) o
suicídio é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão da vida
outorgada por Deus. Mercê dessa posição a igreja precisa ajudar as pessoas a
não sucumbirem diante desse mal.
CONCLUSÃO
O aumento do suicídio é
resultado da ideologia que enaltece a criatura em lugar do Criador. Quando o
homem evoca autonomia sobre o próprio corpo e a vida, desprezando e afrontando
a soberania divina, graves e funestas consequências ocorrem. Ávida só tem
sentido quando está sob o controle irrestrito de seu Criador (Is 41.13).
PARA
REFLETIR
A respeito do tema “Ética Cristã e
Suicídio”, responda:
§
Cite
ao menos, dois casos de suicídio no Antigo Testamento e explique o porquê do
caso de Sansão não ser considerado suicídio.
O caso de Saul e o caso de Aitofel. Decidido a cumprir sua
missão, na festa a Dagon, derrubou o templo sobre si e seus inimigos (Jz
16.30). Entretanto, esta ação é vista como sacrifício de guerra e não
suicídio. Por isso, Sansão aparece na lista dos heróis da fé (Hb
11.32-34).
§
Quais
foram as motivações de Judas em entregar Jesus?
Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para
entregar Jesus (Mc 14.11).
§
Mencione
os três tipos de suicídios classificados oficialmente.
Suicídio convencional, pessoal e sacrificial.
§
Qual
deve ser o posicionamento teológico do cristão em relação ao suicídio?
O cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no
sexto mandamento do Decálogo: “Não matarás” (Êx 20.13).
§
Qual
deve ser o posicionamento ético do cristão em relação ao suicídio?
A posição da Ética Cristã é contrária ao
suicídio pelos seguintes e principais motivos: a) banalização da vida; b)
violação do mandamento do amor; c) um ato egoísta; d) falta de confiança em
Deus; e) um gesto de ingratidão.
Fonte:
Revista CPAD.
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