A epístola de Tiago é marcada por uma forte ênfase na
vida de retidão, e isso levou alguns estudiosos a pensar que o escritor tinha
pouco interesse teológico, o que é uma inferência errônea. Tiago não tem
dúvidas quanto à importância de viver plenamente as implicações da profissão de
fé cristã e isso não está baseado em algum princípio filosófico geral, mas em convicções. Sua
carta é curta, mas ele dá provas de conhecer um número surpreendente de livros
do Antigo Testamento e de estar bem familiarizado com os ensinos de Jesus. O
que ele escreve procede deste cenário.
Tiago
é monoteísta (2.19) e entende que Deus está em atividade. Devemos
orar por sabedoria, pois Deus a dá liberalmente (1.5). Deus escolheu “os que
para o mundo são pobres, para serem ricos em fé” (2.5), o que evidencia tanto o
cuidado de Deus pelos pobres como a fé como dádiva sua. O ser humano foi feito
a imagem de Deus (3.9), algo que, naturalmente tem implicações para a maneira
como ele deve viver. Não é apropriado amaldiçoar alguém, por exemplo: Deus é
sempre justo e exige justiça dos seus. Ele não é tentado pelo mal e não tenta
ninguém (1.3). Ele quer que os cristãos sejam “tardios para se irar, porque a
ira do homem não produz a justiça de Deus” (1.19-20). Ele enxerga a visita à
viúva e órfãos em suas dificuldades como exemplo do tipo de religião que Deus
aceita; isso deve vir junto com manter-se limpo da imundície do mundo (1.27).
Tiago vê que o mundo está em oposição à Deus, tanto que ser amigo do mundo
significa ser inimigo de Deus (4.4). Deus resiste aos orgulhosos, mas dá graça
a quem é humilde (4.6); “sujeitai-vos, portanto a Deus” (4.7). Deus responde a
atitudes corretas da nossa parte: “Chegai-vos a Deus”, diz Tiago, “e ele se
chegará a vós” (4.8). Vemos isso no caso de Abraão. Esse patriarca confiou em
Deus e isso lhe foi creditado como justiça, e ele foi chamado amigo de Deus
(2.23).
A
lei é importante, e Tiago fala paradoxalmente da “lei perfeita”, lei da
liberdade (1.25); é por essa lei que todos seremos julgados (2.12). Ele fala
também da “lei régia” (2.8), que ele explica em termos de amor. Está claro que,
para Tiago, a lei tem importância crucial, mas está igualmente claro que ele
não a entende do mesmo modo como os judeus normalmente faziam. Leonhard Goppelt
comenta “a perfeição da lei não estava em ser ela a lei ideal, mas em
reivindicar o ser humano totalmente para o seu Criador, em toma-lo inteiramente
por dentro e liberta-lo!” A liberdade verdadeira vem apenas do fato de sermos
servos de Deus.
Fraternalmente em Cristo.
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